Kung Fu Panda 4

Em 2016 chegou ao fim a muitíssimo elogiada trilogia de Kung Fu Panda, uma animação da Dreamworks que nos apresentou a Po, um panda que sonhava em se tornar um mestre kung fu apesar de não ter muito jeito pra coisa, mas por acidente, ou destino, ele acaba virando o Dragão Guerreiro, sendo treinado pelo mestre Shifu e lutando ao lado dos Cinco Furiosos. Durante os três primeiros filmes, Po enfrentou vilões com seus golpes kung fu e suas falas engraçadas, passou por uma jornada espiritual, conheceu mais sobre sua história (incluindo seu pai biológico) e, enfim, aprendeu a se sentir confortável em sua pele e no lugar que ocupa na sua comunidade. Tudo isso em três filmes de extrema criatividade (os dois primeiros mais do que o terceiro), com personagens capazes de cativar crianças e adultos, às vezes na mesma proporção.

Agora, quase 10 anos depois, Po está de volta em Kung Fu Panda 4. Como o 4º da franquia, o filme já vem com o peso de manter a qualidade de uma trilogia de sucesso e a responsabilidade só aumenta com a expectativa desse retorno e o porquê de ele acontecer. Na história, Po está vivendo em perfeita harmonia no Vale da Paz, celebrando as glórias de ser reconhecido como um guerreiro, ter fãs e tudo mais, o problema é que essa rotina está com seus dias contados, pois Po é selecionado para se tornar o próximo Líder Espiritual no lugar de Shifu. Para isso, ele deve se “aposentar” de suas funções como Dragão Guerreiro e escolher um sucessor, para desespero do panda. Simultaneamente, tem um novo perigo à vista na forma de uma vilã misteriosa, mas que primeiro aparece na forma de um vilão já conhecido. 

Além da nova vilã Camaleoa, Po conhece a Zhen, uma raposa com um passado misterioso, mas que acaba se tornando amiga de Po por terem um objetivo em comum e juntos eles partem numa aventura numa cidade grande e cheia de crimes. Como era de se esperar, Kung Fu Panda 4 traz novidades, mas isso não significa necessariamente algo positivo. Uma das novidades mais óbvias é a “substituição” do grupo de Po, já que os Cinco Furiosos simplesmente não aparecem na trama, com a justificativa de que estão cumprindo missões individuais; se você já assistiu à trilogia, provavelmente sabe que há um motivo pros Cinco lutarem juntos e que essa justificativa não faz muito sentido. Zhen é uma personagem intrigante e engraçada e sua história pessoal é interessante para a trama, apesar de não ser tão original, mas sua existência não é suficiente para suprir a falta dos outros personagens já conhecidos e queridos pelo público. 

Ainda falando de coadjuvantes, uma subtrama é traçada com os pais de Po, que partem atrás do panda para tentar ajudá-lo a enfrentar a nova vilã. A interação entre os dois rendem alguns bons momentos, algumas risadas, mas a sensação é de que foi subdesenvolvida e que não tem um real propósito além de ser (mais um) alívio cômico. A grande vilã em si, a Camaleoa, reflete alguns dos maiores problemas do filme: juntar diversos temas num só, ao invés de focar em um objeto específico e explorá-lo com maior detalhe. Kung Fu Panda conquistou um espaço especial em meio à grande quantidade de animações que aparecem e desaparecem sem cativar um público só seu e esse mérito não é abalado por uma sequência que não está a altura das anteriores, mas ainda é uma boa opção para a família, por mais que esse filme tenha um apelo consideravelmente maior para as crianças mais novas. Por mais que elementos essenciais, que falavam diretamente com a mensagem central do filme tenham sido diluídos, Po continua engraçado, as cenas de ação aumentaram, as piadas ainda estão lá e o resultado final ainda é superior a muitas outras animações recentes.

Por Júlia Rezende