6.9/10

MaXXXine

Diretor

Ti West

Gênero

Suspense , Terror

Elenco

Mia Goth, Elizabeth Debicki, Kevin Bacon

Roteirista

Ti West

Estúdio

A24 e Universal Pictures

Duração

103 minutos

Data de lançamento

11 de julho de 2024

Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance. No entanto, um misterioso assassino em série persegue celebridades em Los Angeles e um rastro de sangue ameaça revelar o passado sinistro de Maxine.

Em 2022, Ti West escreveu seu nome na história do cinema de horror de uma vez por todas, lançando primeiro X – A Marca da Morte, um slasher clássico que preenchia todos as caixinhas possíveis de clichês do terror e ainda assim teve um resultado espirituoso e original, interessante o suficiente para criar um buzz para Pearl, que veio no mesmo ano e para o antecipado encerramento da trilogia, MaXXXine, que chega aos cinemas 2 anos depois. Dentre as diversas habilidades de Ti West, se destacam sua capacidade de referenciar e espelhar épocas passadas através de recortes precisamente específicos, em X – A Marca da Morte, Ti West recriou um período de transição entre os anos 70 e 80 com maestria, incluindo a temática de filmes adultos, e usou esse período como o pano de fundo perfeito para a história que queria contar, assim como as questões que queria levantar, sobre sexo, envelhecimento e propósito. Ele provou seu talento mais uma vez com Pearl – um filme quase que acidental, que aproveitou a pandemia e os cenários já prontos de X para um novo longa – um filme completamente diferente de X, inclusive no estilo, que explora mais um estudo de personagem e mergulha fundo na psique da secretamente perigosa jovem do interior que sonha em ser reconhecida como a estrela especial que ela acredita ser. É indiscutível, porém, que Ti West não chegou aqui sozinho, sua parceria com Mia Goth foi essencial para fazer esse universo funcionar. 

Em MaXXXine, Mia Goth volta a dar vida à Maxine Minx, a estrela de filmes adultos e única sobrevivente do massacre ocorrido em X – A Marca da Morte. Ela continua trabalhando como atriz em filmes pornô e divide seu tempo entre fazer shows sensuais e assistir filmes com seu melhor amigo. Insatisfeita com sua atual situação, Maxine acredita que é uma estrela e merece muito mais, sempre repetindo o mantra que aprendeu com o pai “eu não vou aceitar uma vida que eu não mereço”. Sua sorte começa a mudar quando passa numa audição e consegue um papel na sequência de um filme de terror b, mas bem conceituado. A cena da audição é mais um exemplo da excelência de Mia Goth, que tem seus melhores momentos quando tem a tela toda para si e a liberdade de atuar sem limites. E a partir dessa audição e do encontro com a excêntrica diretora do filme Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), Maxine entra no tão sonhado caminho para a fama. O problema é que, ao mesmo tempo, mulheres próximas a Maxine começam a aparecer mortas e dois detetives ficam na cola de Maxine, e e aí que as coisas começam a desandar, tanto para Maxine quanto para o roteiro.

MaXXXine estar inserido numa trilogia com dois grandes filmes de terror recente têm seus prós e contras; as vantagens são óbvias, mas um dos pontos negativos é ter um padrão tão alto a ser atingido. Eu acredito que teria aproveitado MaXXXine consideravelmente mais se ele fosse um filme sozinho, mas as expectativas geradas por X – A Marca da Morte e concretizadas por Pearl, colocaram Ti West e Mia Goth num patamar diferenciado. O fato de Mia Goth ter interpretado Pearl, alguém com uma personalidade que espelha a de Maxine, também ajuda a confundir a imagem das personagens e era esperado que Maxine mostrasse a mesma determinação fatal de Pearl em relação à sua carreira. O começo de MaXXXine de fato reforça essa expectativa, com uma Maxine cheia de ambição no olhar, mas quando a trama de assassinatos a alcança, ela está sempre se deixando distrair – não que essa reação não fosse o esperado de uma pessoa normal, mas a questão é que Maxine não deveria ser uma pessoa normal, e no final, pouco de sua obsessão com a fama é explorada como foi nos outros dois filmes.

Com os assassinatos e as referências ao serial killer real, Richard Ramirez, que também existe no universo de MaXXXine e fazia suas vítimas nos arredores de Los Angeles, o filme chega perto de se tornar um mistério whodunit (movido pela surpresa de descobrir quem matou), impulsionado pela figura do detetive particular John Labat (Kevin Bacon), contratado por cliente misterioso para atrapalhar a vida de Maxine. Toda a atmosfera dos anos 80 recriada por Ti West é louvável, desde a trilha sonora até a plasticidade da direção arte e a fotografia, os contrastes das cenas de Hollywood durante o dia como terra dos sonhos e Hollywood à noite, cheia de becos e luzes de neon. Outra referência importante dos anos 80 é o conservadorismo, que culpava a mídia por desviar a juventude com seus filmes e músicas de adoração ao satanismo. Esses pontos interessantes, entretanto, funcionam mais como ideia e perdem força na hora da execução. Quando desvendamos o assassino, o resultado é decepcionante, apelando para um clichê que não desqualifica de forma alguma o prestígio conquistado por Ti West anteriormente, mas não deixa de representar uma oportunidade perdida.

 

Por Júlia Rezende

7.5

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