7.8/10

Meu Nome É Gal

Diretor

Dandara Ferreira e Lô Politi

Gênero

Drama

Elenco

Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Camila Mardila

Roteirista

Lô Politi, Maíra Buhler e Mirna Nogueira

Estúdio

Paris Filmes

Duração

120 minutos

Data de lançamento

12 de outubro de 2023

O relato sobre a cantora baiana mergulha no momento em que a tímida Gracinha se torna Gal Costa, durante os anos violentos, inovadores e estonteantes que ajudaram a dar forma à maior cantora brasileira.

O ano de 2023 parece ser o ano das cinebiografias brasileiras. Com o lançamento elogiado de Nosso Sonho (Claudinho e Buchecha), os lançamentos já engatilhados de Mussum, O Filmis e Meu Sangue Ferve Por Você (Sidney Magal) e agora o lançamento de Meu Nome É Gal, fica claro o fascínio do povo brasileiro com as figuras famosas e suas vidas pessoais. Todos esses nomes tiveram/têm grandes e louváveis carreiras, importantíssimas para a cultura brasileira como um todo, mas isso não significa, necessariamente, que suas vidas resultam em bons filmes. Um filme é mais do que a junção de fatos históricos (foi essa minha observação em relação a Nosso Sonho) e é essa a observação que faço em relação a Meu Nome É Gal.

A história de vida de Gal Costa se mistura com a história da Música Popular Brasileira e se mistura com a história do Brasil, no geral. A ditadura, a Tropicália, foram movimentos que formaram nosso país e nossa identidade como conhecemos hoje e Gal, de um jeito ou de outro, estava no centro de tudo isso. Foi justamente esse o período escolhido para o recorte do filme, a época em que Gal ainda era Gracinha, recém chegada da Bahia para viver numa espécie de oásis hippie no meio de Rio de Janeiro, onde ela se junta a Caetano Veloso (Rodrigo Lelis) e Gilberto Gil (Dan Ferreira) para criar a nossa MPB, mesmo que na época ainda não tivessem total consciência de que era isso que estavam fazendo. A ascensão da ditadura, a transformação de Gracinha em Gal, a perseguição dos artistas, o exílio de Caetano e Gil, até o começo dos anos 70, quando Gal enfim toma uma posição contundente sobre a opressão e seu lugar como artista.

A escolhida para viver Gal foi Sophie Charlotte, uma escolha acertadíssima e aprovada até mesmo por Gal Costa, que apesar de não ter visto o resultado final por conta de seu falecimento no final de 2022, foi quem deu o pontapé inicial ao filme, tendo tido a ideia de transformar sua vida em ficção depois de ter visto o resultado do documentário de Dandara Ferreira e Lô Politi, que voltaram para comandar o filme também. A Sophie como Gal foi uma surpresa em mais de um sentido, apesar de já ter provado seu talento como atriz diversas vezes, aqui Sophie se mostra uma cantora exímia, sua voz é usada por quase todo o filme, sendo substituída pela voz original de Gal em alguns momentos, e seu timbre é parecido com o de Gal sem precisar imitá-lo. Inclusive, todas as atuações no filme são dignas de nota, optando por canalizar a personalidade ao invés de tentar repetir movimentos, os atores passam uma imagem muito mais convincente. É louvável também a habilidade das diretoras em conseguir equilibrar personalidades tão grandes como coadjuvantes (Caetano e Gil não são coadjuvantes em nenhuma outra história, afinal), enquanto ainda mantêm Gal como a protagonista, ainda que sua força seja muito mais interna do que externa (com exceção da voz, é claro).

Meu Nome É Gal me emocionou, as cenas são bonitas e cuidadosas, todo o elenco é afiado, a porção histórica nos traz memórias inexistentes de tempos ao mesmo tempo, contraditoriamente, sombrios e de muito mais liberdade individual e a trilha sonora é, como esperado, um show à parte, composto de músicas inegavelmente sensacionais. É, sem dúvidas, um filme bonito e uma grande produção que vale a pena ser vista e apreciada. Os personagens coadjuvantes, além de Gil e Caetano, também brilham e se encaixam com facilidade e, diante de tantos pontos positivos, é triste que o ponto negativo seja justamente a construção de Gal Costa como personagem.

Gal sempre foi muito reservada em relação à sua própria pessoa, ela sempre foi um mistério, e o problema é que, depois desse filme, ela permanece como um. Vemos muitas situações em que Gal estava inserida, mas vemos muito pouco da Gal em si, como ser humano, suas vontades, seus desejos, seus dilemas além do óbvio. Constantemente os outros personagens estão dizendo “a Gal é o movimento, a Gal é a voz, a Gal representa tudo que pelo que a gente luta” e agora, do futuro, sabendo tudo que sabemos e vimos acontecer, sabemos que Gal foi tudo isso mesmo, mas no filme, nessa narrativa, nada justificava toda essa comoção além da voz de cristal. Gal, ao que tudo indica, era realmente uma pessoa quieta, introspectiva, mas no filme isso traduziu como uma certa apatia, uma submissão. Vemos muitas coisas acontecendo com Gal, mas vemos pouco de Gal fazendo coisas acontecerem. Talvez seja impossível acessar esse local mais profundo da personagem porque ela é a representação real de uma pessoa que era fechada e não estava disposta a abrir esse lugar para ninguém, e esse pode muito bem ser o caso, mas ainda acredito que poderia ter havido uma forma mais ativa de transparecer essa força interna de Gal Costa.

 

Por Júlia Rezende

7.5

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