Não Abra!

“Não Abra!” (It Lives Inside), dirigido por Bishal Dutta e estrelado por Megan Suri, conhecida por seu papel em “Eu Nunca…”, é um longa que traz uma perspectiva cultural intrigante pouco vista em filmes de terror hollywoodianos, pois explora a cultura indiana, seus costumes e a introdução de uma entidade mitológica, chamada Pishacha.

Bishal dirigiu dezenove curtas-metragens e venceu seis prêmios de Melhor Diretor em festivais internacionais de cinema. Seu curta-metragem “Life in Color” foi selecionado oficialmente para o The American Pavilion Emerging Filmmakers Showcase no Festival de Cinema de Cannes 2018. Vale destacar que “Não Abra!” foi premiado no Festival SXSW de 2023, e é o primeiro trabalho de Bishal Dutta como diretor de longa-metragem, onde ele explora um lado pessoal ao abordar temas culturais que fazem parte da sua origem indiana.

O filme conta a história de Samidha (ou Sam), uma adolescente de origem indiana que vive com sua família nos Estados Unidos. Sam carrega muitas inseguranças por ser indiana, o que ficam mais agravadas pela presença de sua ex- melhor amiga Tamira, interpretada por Mohana Krishnan, que guarda um misterioso jarro vazio. O desentendimento entre as amigas leva Sam a quebrar o jarro, libertando uma antiga e perigosa entidade demoníaca que sequestra Tamira. À medida que Sam se lança em uma busca desesperada para salvar sua amiga, ela se torna o alvo do demônio.

A narrativa do filme é interessante ao trazer um debate sobre as questões culturais, em que uma etnia é vista de uma forma preconceituosa e exótica. E no contexto do filme, Sam é forçada a desvendar segredos enterrados em sua herança cultural, um aspecto que torna a história original. A entidade Pishacha é um demônio carnívoro da mitologia hindu, que age de forma diferente do que o esperado, pois ninguém é possuído, mas sim controladas pelo medo.

Com isso, o filme demora para mostrar o monstro, o que aguça o imaginário do espectador sobre o inimigo invisível, em como é a figura monstruosa, um elemento que clássicos como “Alien” já utilizaram.

No entanto, a narrativa do longa deixa a desejar em termos de construção de tensão e sustos genuínos. O uso excessivo de jump scare, que muitas vezes são previsíveis, não contribui para o verdadeiro terror. As atuações caricatas e exageradas também prejudicam a capacidade do filme de transmitir medo. E quando finalmente o monstro é revelado, o espectador já perdeu o medo da história devido a uma construção de narrativa fraca.

“Não Abra!” tem ideias promissoras, mas não consegue ir muito além. Traz discussões sociais necessárias, mas como ainda se trata de um filme de terror, precisava trazer mais elementos do gênero, o que acaba entregando algo genérico.

Mesmo tendo os produtores de “Corra” (2017), o filme não consegue atingir o mesmo feito da história de Jordan Peele, que abordar críticas sociais sem esquecer de criar a atmosfera de terror com excelência.

O filme estreia dia 2 de novembro nos cinemas brasileiros.