O Dia que te Conheci
Diretor
André Novais Oliveira
Elenco
Grace Passô, Renato Novaes, Kelly Crifer
Roteirista
André Novais Oliveira
Estúdio
Filmes de Plástico
Duração
71 minutos
Data de lançamento
26 de setembro de 2024
Cada vez mais o cinema independente brasileiro tem se destacado pela sensibilidade, quase sempre sutil, para lidar com assuntos que permeiam a realidade do nosso povo. É muito bom acompanhar o desenvolvimento desse cinema que busca sua própria identidade ao se aproximar mais do cinema autoral e trazer temáticas e conceitos que fogem dos clichês. “O Dia que te Conheci”, comédia romântica dirigida por André Novais Oliveira é um ótimo exemplo dessa “nova” cara do nosso cinema; nele, seguimos o que parece ser apenas mais um dia na vida de Zeca (Renato Novaes), mas acaba se tornando um divisor de águas, não por grandes acontecimentos e eventos, mas pelo compartilhamento de ideias.
Zeca tem um problema sério: ele não consegue acordar no horário. É um problema comum, mas pra ele é muito mais complicado, ele ignora alarme, ignora seu colega de apartamento apesar das ameaças e, mesmo num estado de dormindo acordado, dá um jeito de arrumar uma desculpa para não sair da cama. Quando mais uma tentativa de acordar no horário fracassa e Zeca chega atrasado na escola em que trabalha como bibliotecário, é inevitavelmente demitido. Mas a riqueza de “O Dia que te Conheci” está nos detalhes e, por mais que o enredo comece a “avançar” após sua demissão, o trajeto de Zeca de casa até a escola é um filme por si só, sua viagem de ônibus pelas ruas de Minas Gerais, os diálogos que ele tem com meros conhecidos mas que desvendam com sutileza aspectos de sua vida e de sua personalidade.
Quando Zeca é demitido, a notícia vem por Luísa (Grace Passô), uma colega de trabalho de quem ele nunca foi próximo, mas uma carona leva a uma cerveja no bar, que leva a conversas que começam com ar de estranheza e impessoalidade e passam a algo um tanto mais profundo quando eles percebem que têm mais coisas em comum do que esperavam. Talvez, no entanto, “profundo” não seja a palavra mais adequada, afinal o filme mantém seu pé no realismo e a conversa entre eles é exatamente o que se espera de uma conversa entre duas pessoas que estão se conectando pela primeira vez, sem frases prontas e monólogos complexos e filosóficos. A química entre Zeca e Luísa, assim como todo o resto, começa sem grande alarde, mas aumenta gradativamente, o suficiente para que o espectador compreenda seu carisma e passe a torcer por eles, não necessariamente para um “amor de cinema”, mas para que eles encontrem aspectos de suas vidas que se perderam em algum lugar do caminho.
Em meio a tantas produções que podem pecar pelo excesso, é sempre bom ser surpreendido pelo minimalismo que ainda alcança a emoção. A direção de André Novais Oliveira se mantém fiel à sua forma, com planos abertos e estáveis para mostrar o mundano, mas ainda de forma especial. A história de Zeca e Luísa emana esperança e tem sua raiz na troca entre as pessoas que, às vezes por não se darem a chance, acabam vivendo alheias umas às outras, ao mesmo tempo que mostra que o necessário para grandes problemas podem ser pequenas soluções.
Por Júlia Rezende