O Menino e a Garça
Diretor
Hayao Miyazaki
Elenco
Soma Santoki, Masaki Suda, Kô Shibasaki
Roteirista
Hayao Miyazaki
Estúdio
Hayao Miyazaki
Duração
120 minutos
Data de lançamento
22 de fevereiro de 2024
Contém Spoilers
“O Menino e a Garça” (Kimi-tachi wa Dou Ikiru ka?) marca o retorno de Hayao Miyazaki, que decidiu sair de sua aposentadoria para adaptar o livro How Do You Live, de Genzaburo Yoshino.
A animação finalmente chega ao Brasil nesta quinta-feira, dia 22 de fevereiro. Vencedora do Globo de Ouro e do BAFTA, o filme também recebeu sua indicação ao Oscar, sendo um dos favoritos a ser o vencedor na categoria de Melhor Animação. Com orçamento estimado em 100 milhões de dólares, a nova obra do Estúdio Ghibli, já arrecadou 165 milhões de dólares em bilheteria mundial.
O filme conta a história de Mahito, que após perder a sua mãe durante a guerra, ele muda-se para o campo com o pai e conhece sua madrasta, que também é sua tia (irmã de sua mãe). Lá, uma série de eventos misteriosos o levam ao lar de uma garça, uma torre antiga, onde ele entra em um mundo fantástico partilhado pelos vivos e pelos mortos.
“O Menino e a Garça” é uma imersão entre o mundo real e fantástico, algo sempre presente nos filmes do Estúdio Ghibli. Logo no começo do longa, vemos como o protagonista enfrenta os desafios do luto em meio a um Japão dilacerado pela guerra. O filme revela os horrores do conflito através de detalhes minuciosos, como os soldados patrulhando as ruas e a escassez de recursos mesmo em uma casa de classe alta. Esses elementos contribuem para criar uma atmosfera densa e palpável, onde a guerra está presente em cada aspecto da vida dos personagens.
Visualmente deslumbrante, “O Menino e a Garça” é um testemunho da habilidade de Hayao Miyazaki e do Estúdio Ghibli, que nunca decepcionam em trazer uma animação fluída e milimetricamente trabalhada nos movimentos, composição e cores das cenas. Os desenhos feitos à mão contribuem para criar um mundo rico em detalhes e beleza, algo tão importante de vermos no cinema de animação.
Miyazaki faz um filme legado, feito para espectadores que já estão familiarizados com o estilo reflexivo e contemplativo dos filmes do Estúdio Ghibli. Carrega diversas referências de seus longas icônicos, refletindo sobre sua própria vida, seu trabalho e também o momento de passar o bastão para o futuro da história do Estúdio Ghibli. Esse discurso é notável quando é apresentado o personagem idoso de barba e cabelos brancos, que é o criador do mundo fantástico. Ele expressa explicitamente sua busca por um sucessor para manter o equilíbrio do universo. Essa linha de diálogo adiciona uma camada adicional de significado à narrativa, sugerindo uma reflexão sobre a passagem do tempo, a responsabilidade e a continuidade das tradições e valores de Miyazaki.
O filme aborda temas complexos de maneira sensível, como o amadurecimento e o processo de lidar com a perda, mas ainda de forma muito rasa. A narrativa se dispersa em várias direções, como a relação conturbada de Mahito com sua madrasta que não é tão explorada, o que causa estranheza quando vemos que será a trama central do filme. Essa falta de clareza na motivação do protagonista, pode deixar alguns espectadores confusos e desconectados da história.
“O Menino e a Garça” carrega problemas para contar sua história, mas ainda consegue cativar com sua beleza visual e suas mensagens profundas sobre a vida, o luto e o legado deixado para as gerações futuras.