Ó Paí, Ó 2
Diretor
Viviane Ferreira
Elenco
Lázaro Ramos, Luciana Souza, Dira Paes
Roteirista
Daniel Arcades, Viviane Ferreira, Elísio Lopes Jr.
Estúdio
H2O
Duração
90 minutos
Data de lançamento
23 de novembro de 2023
“Ó Paí, Ó 2” marca a volta nas telonas com a presença do elenco original após 15 anos desde o lançamento do filme de 2007. Com estreia prevista para quinta-feira, dia 23 de novembro, o longa foi filmado no Centro Histórico de Salvador e no bairro do Rio Vermelho, com foco novamente em temas sociais e denúncias do cotidiano dos moradores. A Monique Gardenberg que dirigiu o primeiro longa, passa a ser produtora da sequência, passando o bastão da direção para Viviane Ferreira (“Um Dia com Jerusa”), que é a segunda mulher negra no Brasil a dirigir individualmente um longa-metragem de ficção. A escolha da diretora é um dos pontos positivos, pois trouxe maior propriedade e sensibilidade para abordar questões raciais e sociais da realidade da comunidade negra.
O filme conta a história de Roque (Lázaro Ramos), que está prestes a lançar sua primeira música e acredita que vai se tornar um artista de sucesso. Já Neuzão (Tânia Toko), perde seu bar para uma turma de caráter duvidoso, causando uma comoção geral e juntando todos os personagens já conhecidos pelo público para salvar o bar que já é visto como patrimônio do bairro de Pelourinho, em Salvador.
Lázaro Ramos, reprisando o papel de Roque, entrega uma atuação envolvente, revelando um personagem mais maduro, agora também pai, e destacando as lutas de um artista independente negro em busca de reconhecimento e espaço. Em entrevista ao Cinema Up, Lázaro ressaltou: ‘Poder voltar com o Roque 15 anos depois é uma maneira de rever o Brasil. Esse personagem e todos os personagens de ‘Ó Paí, Ó’ representam vários temas.’ Ele enfatizou: ‘No caso do Roque, é muito o tema da formação comunitária, a criação de seu filho. Então é outra vertente que estou feliz de ter a oportunidade de abordar no filme’, finalizou.
A trama destrincha diversas camadas das questões raciais, como os assassinatos de jovens por policiais, explorando a angústia de uma mãe que perdeu seus filhos e enfrenta desafios de saúde mental, como é o drama da personagem Dona Joana (Luciana Souza). O filme também destaca a diversidade, incluindo representação de trans e travesti, além do protagonismo da mulher preta. Essa inclusão é notável ao abordar o direito ao afeto e amor sem preconceitos para a personagem Yolanda (Lyu Arisson).
“Ó Paí, Ó 2” não apenas representa a passagem do tempo, mas também se destaca por sua capacidade de se adequar aos movimentos de renovação da sociedade. A cena inicial oferece uma visão precisa do panorama contemporâneo, apresentando atendimentos espirituais online, comerciantes recorrendo a serviços de entrega para garantir a sobrevivência de seus estabelecimentos e jovens que recebem elogios de suas professoras por dominar os labirintos do metaverso e da realidade virtual. Esses elementos não só indicam uma narrativa conectada ao presente, mas também revelam a habilidade do filme em não se apegar excessivamente à nostalgia confortável e afastando o filme de um discurso reacionário avesso às mudanças.. O filme só perde a mão com a questão tecnológica a sair um pouco da realidade sobre a tecnologia e como os jovens a utilizam no dia a dia, o que acaba ficando muito mais no fantástico do que na vida real.
No entanto, alguns pontos merecem críticas. A montagem do filme é confusa, especialmente nas transições para as cenas musicais, prejudicando a fluidez narrativa. O enredo principal e algumas subtramas, como a perda do bar de Tânia, poderiam ter sido mais explorados para proporcionar uma coesão e realismo adicionais à narrativa. O foco excessivo na militância, embora importante, parece colocar de lado o trama central, resultando em uma perda de força narrativa do meio ao fim.
No aspecto musical, o filme brilha ao trazer músicas que capturam a essência sonora atualmente presente no Brasil, especialmente em Salvador, mergulhando nas raízes culturais baianas que são uma marca registrada desde o primeiro filme.
“Ó Paí, Ó 2” é uma obra que, apesar de seus pontos técnicos a serem refinados, consegue impactar ao abordar questões sociais relevantes, oferecendo uma mistura envolvente de musicalidade e reflexão sobre a jornada dos personagens. Lázaro Ramos, como protagonista, destaca-se ao compartilhar o protagonismo com os demais personagens, evidenciando um esforço da diretora Viviane Ferreira em trazer vozes autênticas para o cinema.