O Primeiro Dia da Minha Vida

Numa noite chuvosa em Roma, três estranhos com vidas e idades bem diferentes, mas todos estão vivendo um momento em comum: eles estão prestes a tirar a própria vida. Segundos antes de consumarem o ato, são visitados pelo mesmo homem (Toni Servillo), que os colocam num carro sem maiores explicações. Todos eles são levados para um hotel aparentemente desocupado, recebem quartos e são instruídos a dormir. Na manhã seguinte, quando se reúnem para a mesa do café da manhã, encontram mais uma vez com o homem que os “resgatou” e conhecem um adolescente que está na mesma situação que eles. Ainda rodeados de mistérios, eles eventualmente entendem partes do que está acontecendo: O Homem é uma figura que atravessa suas versões de realidade (meio anjo, talvez?) e está com eles guiá-los numa jornada de reflexão. Durante uma semana, essas 4 pessoas ficarão numa espécie de limbo entre vida e morte, e poderão observar como seriam esses dias após o suicídio e como seria o mundo sem eles, principalmente para seus entes queridos. Após esse período, poderão decidir se, de fato, encerrarão seu tempo na Terra ou se tentarão novamente.

Napoleone (Valerio Mastandrea) é um homem depressivo que não consegue enxergar beleza na vida, Arianna (Margherita Buy) é um policial que perdeu a filha recentemente, Emilia (Sara Serraiocco) é uma ex-atleta olímpica que teve um acidente e não pode mais praticar seu esporte e Daniele (Gabriele Cristini) é um garoto que virou um Youtuber famoso por ingerir grandes quantidades de comida em pouco tempo, apesar de ser diabético, e é negligenciado pelos pais que só pensam no número de seguidores do filho. A trama, assim como os desafios enfrentados pelos personagens e suas personalidades, não é exatamente complexa. Pelo contrário, é um filme (baseado num livro homônimo, inclusive) muito objetivo quanto à sua intenção, mas para apresentar uma obra mais aberta, faz uso de elementos de fantasia para criar perguntas e reflexões sem oferecer respostas imutáveis.

A direção de Paolo Genovese, que também escreveu o roteiro e o livro em que o filme foi baseado, tem uma boa ideia de como ele quer que essa história seja contada e percebida. Ele tem sucesso sobre alguns aspectos, como a fotografia e a inserção da cidade como um personagem, mas falha em transformar O Primeiro Dia da Minha Vida em uma história verdadeiramente única, ou ao menos inventiva o suficiente para criar uma marca memorável e apenas sua. Talvez por ser baseada em um livro, Genovese dá um grande destaque aos diálogos, mas eles não soam profundos o suficiente para uma temática como depressão e suicídio. Esse tema, inclusive, carrega em si o risco de inspirar uma narrativa que seja excessivamente dramática ou apenas piegas – nesse caso, foi a segunda opção. 

É interessante as etapas pelas quais os personagens passam,  como suas relações são postas à prova e tanto eles, como nós, somos convidados a experimentar outros lugares e outras perspectivas para repensar um sentido para suas vidas. No entanto, as situações apresentadas e as personalidades dos personagens são limitadas quanto ao enredo e rasas em suas possibilidades. Uma grande ideia, acompanhada de um grande elenco, mas que se prende a mensagens formulaicas e um conceito excessivamente otimista do que leva uma pessoa a tirar sua vida, no final resulta em um filme que pode ser um sucesso na sessão da tarde, mas não cumpre todo seu potencial.

Por Júlia Rezende