Perdida
Diretor
Katherine Chediak Putnam e Luiza Shelling Tubaldini
Elenco
Giovanna Grigio, Bruno Montaleone, Nathália Falcão
Roteirista
Luiza Shelling Tubaldini, Karoline Bueno, Carina Rissi, Katherine Chediak Putnam e Dean W. Law
Estúdio
Star Distribution
Duração
Data de lançamento
13 de julho de 2023
É sempre bom ver filmes nacionais que fogem dos padrões já estabelecidos do nosso cinema. Os filmes de comédia dominam a indústria, mas até mesmo as comédias românticas são mais escassas do que poderiam. Nesse contexto, aparecer uma produção como “Perdida”, adaptação do livro homônimo de Carina Rissi lançado em 2011 e que conta com 6 volumes, é uma novidade bem-vinda. A história é um romance teen (encaminhando pro público jovem adulto), com um lado de comédia, mas com um pano de fundo de época, juntando o antigo ou atual, e fazendo dessa, uma produção diferente de quase tudo que temos hoje em dia.
Com um roteiro assinado por Luiza Shelling Tubaldini, Karoline Bueno, Carina Rissi, Katherine Chediak Putnam e Dean W. Law e direção de Katherine Chediak Putnam e Luiza Shelling Tubaldini, Perdida traz um enredo bem fiel ao livro considerado um best-seller, do tipo que pode ser considerado um verdadeiro presente aos fãs que estavam esperando para ver esses personagens ganhando vida e imagens, mas também com qualidade suficiente para conquistar fãs novos, inclusive aqueles que não conhecia nada da história ainda. É prazeroso ver piadas e tiradas destinadas para o público jovem e que realmente funcionam e divertem, mesmo quando são um tanto óbvias. Perdida preferiu não mexer em time que está ganhando no que diz respeito à sua narrativa e o todo o restante que foi acrescentado à forma também fez um bom trabalho agregando valor ao conteúdo.
Na história, Sofia (Giovanna Grigio) é uma jovem que trabalha numa editora de livros e duas coisas estão acontecendo em sua vida: na vida pessoal, Sofia está desencantada com os homens que conhece e não gosta de aplicativos e derivados para conhecer pessoas novas, já em sua vida profissional, está tentando emplacar a publicação de uma nova edição de Orgulho e Preconceito, o clássico de Jane Austen (a personagem e Carina Rissi têm em comum sua admiração pela autora), mas seu chefe e colegas de trabalho não se convencem de que trazer uma história de época será uma boa ideia com o público jovem. Mais que uma fã de Jane Austen, Sofia sonha com todo o universo que permeia essa época e é crítica da volatilidade dos tempos modernos e fica especialmente decepcionada quando seu projeto não vai pra frente.
A cereja do bolo de sua frustração é quando Sofia fica sabendo que sua melhor amiga vai se mudar pra Austrália porque seu namorado – que agora vai virar marido – foi transferido a trabalho e, ao invés de ficar feliz pela amiga, Sofia projeta nela sua desconfiança em relação aos homens e acaba julgando a escolha da amiga. Nisso, ela é visitada por uma “fada madrinha” que de fada não parece ter nada e é mandada para a década de 1800, onde conhece Ian Clarke (Bruno Montaleone), um jovem nobre à procura de uma esposa que vai desafiar tudo o que Sofia acreditava saber sobre o amor, e até sobre ela mesma.
Essa parte merece parênteses sobre privilégios e uma crítica mais pautada no social. Primeiramente, apenas uma pessoa branca, cis, heterossexual e etc., poderia ter esse grande desejo de voltar e viver num passado tão distante, em que apenas um grupo tão seleto gozava de algum tipo de direito, apesar do fato de uma mulher querer isso permanecer um mistério para mim. Para aproveitar o filme, é necessário dar essa “licença poética” à história. Licença essa que também está presente na realidade de 1830 retratava, afinal de contas, a escravatura ainda era vigente no nosso país nesse período, mas não na realidade criada pelo universo de Perdida. Sofia volta para o passado, mas um passado fabricado – em partes. Pessoas pretas e brancas vivem em perfeita harmonia, aparentemente racismo é completamente inexistente. Já a misoginia ainda está presente, e outras minorias parecem não existir. Para se aproveitar a história por completo (ou quase, já que, para mim, os últimos minutos do filme estragaram grande parte da experiência), é necessário relevar todas essas questões da nossa realidade e focar unicamente no universo apresentado e mergulhar no romance entre Sofia e o lorde Ian Clarke, que têm uma química perfeita para o clima.
Durante sua visita ao passado, recheada de situações cômicas envolvendo o choque entre o antigo e o moderno, enquanto Sofia aprende sobre sua força e autoconfiança, mas, principalmente sobre recobrar, ou até mesmo descobrir, sua fé no amor e nos homens em geral. As amigas que ela faz nessa época também a ajudam nessa jornada e ela, em retribuição, pode levar um pouco do empoderamento feminino para elas, na medida do possível. Dentre os personagens coadjuvantes, vale a menção à Abigail (Luciana Paes), a não-muito-fada madrinha, que traz ao filme um equilíbrio divertido entre realidade e fantasia. O filme é bem construído no geral, com ênfase no visual e na temática de época sem perder de vista que ainda se trata de uma história do século 21.
Por Júlia Rezende