Pérola
Diretor
Murilo Benício
Elenco
Drica Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz
Roteirista
Jô Abdu, Adriana Falcão, Marcelo Saback
Estúdio
Globo Filmes
Duração
90 minutos
Data de lançamento
28 de setembro de 2023
O filme nacional, “Peróla”, dirigido por Murilo Benício e estrelado por Drica Moraes, é baseado na peça de teatro escrita por Mauro Rasi. A trama principal gira em torno de Pérola (Drica Moraes) e seu filho Mauro (Leonardo Fernandes). Após receber a notícia da morte de sua mãe, Mauro retorna à sua casa em Bauru, onde relembra momentos marcantes de sua vida familiar. Durante o longa, ele reflete sobre os conflitos, os dias bons, engraçados e decisivos com sua mãe.
O filme é uma comédia dramática de qualidade, equilibrando habilmente os momentos engraçados com os mais emocionais. Os diálogos mesclam intelectualidade com falas populares, o que proporciona uma experiência autêntica. O longa é, acima de tudo, uma celebração da figura da mãe brasileira.
Murilo Benício estreou como diretor com o ótimo filme dramático, “O beijo no asfalto” (2018), que é baseado em uma peça homônima do consagrado dramaturgo Nelson Rodrigues. E agora volta com seu segundo longa “Pérola” também adaptado de um peça teatral escrita por Mauro Rasi. Segundo o Jornal do Brasil, a conexão entre Benício e Rasi foi estabelecida em 1995, quando o dramaturgo convidou o diretor para integrar o elenco de sua próxima peça na época, intitulada ‘As Tias do Mauro Rasi’. Nesse primeiro encontro, Rasi também o levou para assistir a sua peça ‘Pérola’, que estava em cartaz naquela época. Murilo Benício se apaixonou pelo projeto, e depois de anos, concretizou o sonho de trazer a história para as telonas.
Ambientada entre as décadas de 1960 e 1980, mostra a mudança de uma família para um casarão em Bauru, que tem como desejo transformar o lugar em uma mansão com piscina, uma reforma que, como na vida real, demora anos para ser concluída. E para retratar todas as mudanças no espaço e também dos personagens é necessário um grande trabalho visual, o que felizmente é um destaque positivo para o longa, pois a direção de arte é um espetáculo à parte, recriando as décadas com perfeição e fazendo com que o público possa distinguir facilmente cada época através dos cenários, penteados e roupas dos personagens. A fotografia com cores vibrantes adiciona uma camada extra de imersão.
A atuação de Drica Moraes como a matriarca é marcante, apresentando Pérola como um ícone de personalidade forte, que gosta de ser o centro das atenções, apaixonada pelos drinques criados por seu marido amoroso, interpretado por Rodolfo Vaz, e com um arsenal de “dias mais felizes de sua vida”. Mas também mostra o lado amoroso de Pérola, que tem sempre um olhar atento à sua família, onde em muitas cenas vemos Pérola apenas admirando seus filhos ou acolhendo sua irmã em um momento de tristeza. Todas essas camadas mostram como ela é uma figura inesquecível e o motivo de contar a sua história.
Apesar de uma estrutura narrativa não-linear que pode causar alguma confusão em certos momentos, o carisma e a empatia pela personagem principal compensam isso. O filme consegue traduzir de forma universal como é uma família. Os espectadores certamente se lembrarão de suas próprias experiências familiares. Por exemplo, quando a mãe é cismada com alguma coisa que repete todos os dias; quando falam mal da visita assim que a pessoa vai embora; os pais que pedem para não desligar a televisão, mesmo quando estavam claramente dormindo na frente da tela; ou até de outros familiares, como as tias fofoqueiras e as festas de famílias intermináveis.
O segundo trabalho de direção de Murilo Benício mostra que o artista tem talento para comandar projetos. O diretor foge da dramédia caricata, ele entrega um olhar sensível e verdadeiro sobre as complexidades de relação de uma mãe e seu filho, algo que lembra a temática de Pedro Almodóvar. Além disso, o fez um ótimo trabalho com a direção dos atores, pois existe química entre os membros da família, principalmente, entre Drica Moraes e Rodolfo Vaz que passam a sensação de realmente serem casados e apaixonados um pelo outro.
Concluindo, “Peróla” é um filme que universaliza a experiência familiar, fazendo com que o público se identifique com os personagens e se lembre de suas próprias mães. O comportamento de Pérola e sua família são tão autênticas que nos transportam para dentro de suas vidas, nos fazendo rir, chorar e refletir sobre a complexidade e o amor que permeiam as relações familiares. Em suma, “Peróla” é um acerto do cinema brasileiro que merece ser apreciada por todos os públicos.