7.0/10

Pisque Duas Vezes

Diretor

Zoë Kravitz

Gênero

Suspense

Elenco

Naomi Ackie, Channing Tatum, Alia Shawcat

Roteirista

Zoë Kravitz e E.T. Feigenbaum

Estúdio

Warner Bros. Pictures

Duração

102 minutos

Data de lançamento

22 de agosto de 2024

Quando o bilionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum) conhece a garçonete Frida (Naomi Ackie) em seu baile de gala para angariar fundos, a atração entre eles é inegável. Ele logo faz a Frida um convite irresistível: juntar-se a ele e seus amigos numas férias dos sonhos em sua ilha particular. É o paraíso. Noites selvagens se misturam a dias ensolarados, e todos estão se divertindo muito. Ninguém quer que a viagem acabe, mas como situações estranhas começam a acontecer, Frida também começa a questionar, sobretudo, a sua realidade. Há algo de errado com este lugar, e ela vai ter que descobrir a verdade se quiser sair viva dessa grande e estranha festa.

Em 2017, Jordan Peele lançou seu primeiro longa que viria a ser um grande sucesso de crítica e público e conquistou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Peele soube equilibrar com maestria elementos clássicos do terror fantástico com experiências da vida real, enquanto faz uma crítica social que foge da obviedade. É impossível assistir “Pisque Duas Vezes” e não pensar em “Corra!” – algo positivo em todos os sentidos. Embora o roteiro de “Pisque Duas Vezes” tenha começado a ser desenvolvido em 2017, junto com o lançamento de “Corra!”, é evidente as suas semelhanças, tanto na temática quanto na construção da narrativa, mas Zoë Kravitz, apesar de estar estreando como diretora, ainda consegue manter as referências apenas como referências, enquanto deixa sua marca e cria uma obra com identidade própria. 

É especialmente louvável que esse filme seja uma estreia de direção. Zoë Kravitz toma decisões ousadas e corajosas, enquanto coloca em jogo situações intrínsecas de tantas vivências femininas e negras, sem nunca ignorar as experiências individuais. A peça central da história, que Kravitz também co-escreveu com E.T. Feigenbaum, é a jovem Frida (Naomi Ackie) e sua introdução já é recheada de dicas sobre o que acontecerá pelas próximas quase duas horas, mas de forma sutil. Frida e sua melhor amiga Jess (Alia Shawkat) são mulheres de atitude e com vontade de se divertir, é assim que, durante um evento de gala onde estavam trabalhando como garçonetes, acabam cruzando o caminho de Slater (Channing Tatum), um jovem bilionário com histórico de cancelamento na Internet. Ele é charmoso o suficiente para convencer as duas amigas a irem com ele para sua ilha particular depois do evento.

É claro que é uma situação suspeita, Frida e Jess estão cientes disso, mas elas querem se divertir um pouco e se consideram inteligentes suficiente para escapar de alguma situação se necessário – e elas realmente são, o problema é que não é uma situação qualquer, mas isso é tudo que eu vou dizer para evitar spoilers. O roteiro de “Pisque Duas Vezes” é bom, mas é a direção de Zoë Kravitz que eleva a experiência do filme. O suspense é construído em cima de símbolos e referências (vale destacar o papel das cores aqui), com uma trilha sonora contundente e que aumenta o mistério e o suspense de toda a situação. Tão bem trabalhadas quanto o mistérios são as relações femininas em diferentes níveis e configurações, mas todas realistas e igualmente interessantes entre si e para a narrativa. Fica evidente em cada cena e no cuidado com as personagens, principalmente com a protagonista, que Zoë Kravitz tem total consciência de como uma mulher como ela é vista pela sociedade, mas – e muito mais importante – ela sabe quem ela é (e nossa protagonista, por extensão), independente das expectativas. 

Por conta das semelhanças com “Corra!”, uma das grandes reviravoltas do filme perde um pouco o elemento da surpresa, mas Kravitz é capaz de contornar isso e até mesmo fugir de maiores comparações com uma escolha ousada, divertida e desapegada da moralidade para o final. É um final criativo e que reflete muito bem o nosso tempo atual e o papel da representatividade no audiovisual, justamente por quebrar expectativas para criar algo original. “Pisque Duas Vezes” tem profundidade e lida com diversos temas sociais. A crítica está ali, a todo momento e escancarada para qualquer um que esteja minimamente interessado em sua mensagem, mas não de forma expositiva ou maçante e sim como mais um elemento de mistério nesse suspense que tem um pouco de tudo e sabe o que fazer para equilibrar todas essas coisas.

 

Por Júlia Rezende

8.5

Missão cumprida

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