
Presença
Diretor
Steven Soderbergh
Elenco
Lucy Liu, Chris Sullivan, Callina Liang
Roteirista
David Koepp
Estúdio
Diamond Films
Duração
84 minutos
Data de lançamento
03 de abril de 2025
O terror é um gênero que, apesar de não se esgotar, muitas vezes parece saturado. É difícil encontrar uma ideia realmente original a essa altura do campeonato, mas “Presença”, o novo filme de Steven Soderbergh, com roteiro de David Koepp, prova que é possível. Com apenas uma locação e um elenco reduzido, “Presença” traz a história inteira contada a partir do ponto de vista da presença (ou fantasma, como preferir) que habita a casa onde uma nova família vai morar. Por ser do ponto de vista da Presença, conhecemos a família e sua dinâmica aos poucos, através de pequenas informações inseridas em diálogos. Rebekah (Lucy Liu) é a mãe, ela aparenta ser uma empresária do tipo que não mede esforços para conseguir o que quer, já o pai, Chris (Chris Sullivan), é quem mantém o equilíbrio, com uma personalidade muito mais afável. O casal tem dois filhos, o mais velho é Tyler (Eddie Maday) e a mais nova é Chloe (Callina Liang). Enquanto Tyler parece ter herdado o lado menos agradável da mãe (não à toa é claramente seu preferido), Chloe é uma menina tranquila, mas que ainda passa pelo luto de ter perdido uma amiga recentemente; mais importante, Chloe é a primeira a identificar que há uma presença na casa.
Também contrariando a lógica óbvia do terror, mesmo tendo uma família se mudando para uma nova casa, a casa não é isolada, nem uma mansão com cara de mal-assombrada e quando Chloe começa a notar coisas estranhas acontecendo, é desacreditada no começo, mas logo a família inteira percebe ser algo real, ainda que não entendam ou aceitem por completo as explicações. Toda a construção da Presença, o modo como ela se relaciona com Chloe e observa as personalidades e acontecimentos é a melhor parte do filme, mostrando uma criatividade que serve muito bem ao terror. A escolha de não dar uma representação física ao “fantasma” também acrescenta ao clima de suspense e mistério; ver os resultados das ações da Presença sem vê-la de fato, traz o elemento do medo mais à tona.
O pouco que conhecemos da família é o suficiente para que possamos tirar nossas conclusões de cada um e nos relacionar de forma diferente com eles, o que também acontece com a Presença. Apenas juntando as peças e enxergando com os “olhos” da Presença, conseguimos entender grande parte de sua história e motivação, com ajuda da sensitividade de Chloe e de uma médium que vai ajudar a família quando eles percebem a realidade das coisas. Enquanto até esse momento a história se dava muito bem no abstrato, o filme de Soderbergh insere uma trama que acaba se tornando o ponto mais fraco dessa história. “Presença” poderia ser um excelente filme de “espírito”, mas acaba se tornando um thriller bem menos inspirado com um enredo que deixa a criatividade de lado para dar espaço a uma narrativa já batida e um tanto previsível, com alguns furos a respeito do que a Presença pode ou não fazer.
Mesmo com figurinhas carimbadas do gênero: família disfuncional, luto mal resolvido, casa nova no subúrbio e coisas do tipo, Soderbergh surpreende com a originalidade de seus planos, diálogos e na construção da Presença, provando que ainda há muito a ser explorado nesse tipo de filme. A junção de todos esses fatores faz com que, mesmo com alguns deslizes e decepções, “Presença” seja um filme que merece a nossa atenção.
Por Júlia Rezende