Prisão nos Andes
Diretor
Felipe Carmona
Gênero
Drama
Elenco
Andrew Bargsted, Hugo Medina, Bastián Bodenhöfer
Roteirista
Felipe Carmona
Estúdio
Retrato Filmes
Duração
104 minutos
Data de lançamento
19 de setembro de 2024
Os países da América Latina compartilham de muitas semelhanças em sua cultura e história, apesar de diversos pontos positivos, ainda somos ligados por manchas políticas em comum, como a ditadura, que apesar de ter tido diferentes formas, foi igualmente mortal e traumatizando para esses países, que trazem esse traço para sua identidade cultural até hoje, muitas vezes dentro da indústria audiovisual. Mais recentemente, o filme “Argentina 1985”, que trata da ditadura argentina, chegou ao Oscar, assim como “O Conde” uma obra interessante e voltada para a comédia satírica, que retrata uma das figuras mais odiáveis da história chilena como um vampiro. “Prisão nos Andes”, de Felipe Carmona, não fala exatamente desse período, mas de suas consequências – ou falta delas – para aqueles que estiveram no poder ao lado de Augusto Pinochet.
O General Augusto Pinochet não chega a aparecer em “Prisão nos Andes”, filme focado em eventos reais envolvendo 5 militares de alta patente do regime de Pinochet que foram julgados e condenados a 800 anos de prisão. Talvez essa sentença pudesse ser considerada uma vitória da justiça, já que esses homens foram diretamente responsável pela tortura e morte de milhares de pessoas, mas quando somos convidados a conhecer sua vida na “prisão”, descobrimos que a justiça não poderia estar mais distante. Os cinco ex-militares dividem uma mansão nos Andes, nenhuma grade separa qualquer cômodo e nenhum limite é imposto – muito pelo contrário – nessa “prisão”, eles são livres para fazer o que e como bem entenderem. Cercados de guardas, que supostamente estariam lá para impedir que eles furassem suas sentença, eles na verdade fazem dos guardas seu serviçais, seja para lavar e passar suas roupas, limpar a casa ou servir sua comida; eles chegam até mesmo a treinar os guardas, como se tivessem seu próprio exército particular.
A paz com que eles levam a vida durante um tempo que deveriam sofrer consequências é o primeiro de muitos fatores que nos levam ao desconforto durante o filme. A fotografia ajuda a criar um clima sombrio que combina com o passado e natureza desses homens e dá ao filme um ar de thriller mesmo quando nada realmente “assustador” está acontecendo. Quando a paz desses homens é perturbada, a história também tem uma guinada ainda mais tensa; por pura arrogância e prepotência, um deles decide abrir as portas da “prisão” para dar uma entrevista a um jornal e, com desdém, fala sobre a realidade por trás de sua sentença e expõe suas regalias como se fossem suas de direito. Uma vez que essa informação vai a público, seus privilégios começam a ser revogados e o clima de discórdia se espalha entre o grupo que está disposto a fazer tudo que é necessário para que sua situação não se altere.
O filme é, principalmente, uma exposição do que seria a essência dos cinco militares e a imagem que eles têm de si e de todo o mal que causaram. É uma visão extremamente pessimista e, infelizmente, realista – ao que tudo indica. De acordo com o filme, ao menos, esses homens não carregaram em si qualquer culpabilidade em relação a suas ações ou chegaram perto do arrependimento. Contar mais um pedaço do passado violento do Chile através desse recorte é uma forma de fazer exatamente o oposto do que esses homens desejavam: lembrar – nunca esquecer – o que acontecera. Por mais que a história se torne cansativa em alguns momentos, talvez pela insistência em falar apenas deles e não se estender em subtramas desenvolvidas, mas Felipe Carmona ainda é capaz de gerar emoções numa história sobre pessoas, aparentemente, sem alma.
Por Júlia Rezende