7.8/10

Sweet Tooth T2

Diretor

Gênero

Drama

Elenco

Nonso Anozie, Christian Convery, Adeel Akhtar

Roteirista

Jim Mickle e Beth Schwartz

Estúdio

Netflix

Duração

55 minutos

Data de lançamento

27 de abril de 2023

Enquanto uma nova onda mortal do Flagelo avança, Gus (Christian Convery) e um grupo de companheiros híbridos são mantidos como prisioneiros pelo General Abbot (Neil Sandilands) e pelos Últimos Homens. Procurando consolidar seu poder encontrando a cura, Abbot usa as crianças como cobaias para os experimentos do Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar), que está correndo contra o tempo para salvar sua esposa infectada Rani (Aliza Vellani). A fim de proteger seus amigos, Gus concorda em ajudar Dr Singh, iniciando uma jornada sombria às suas origens e ao papel de sua mãe Birdie (Amy Seimetz) nos eventos que levaram ao Grande Esfacelamento. Fora da reserva, Tommy Jepperd (Nonso Anozie) e Aimee Eden (Dania Ramirez) se unem para libertar os híbridos, uma parceria que será colocada à prova quando os segredos de Jepperd vierem à tona. Como as revelações do passado ameaçam a possibilidade de redenção no presente, Gus e sua nova família encontram-se em uma rota de colisão com Abbot e as forças do mal que procuram exterminá-los de uma vez por todas.

A primeira temporada de Sweet Tooth nos apresentou a Gus, um menino-cervo vivendo isolado com seu Paba (como ele chama sua figura materna) num mundo pós-apocalíptico. Eles levavam uma vida limitada, mas satisfatória, sozinhos num parque cercado por grades que serviam para impedir que fossem encontrados, mas também que Gus saísse. Isso porque, ao mesmo tempo em que surgiu o vírus ou “flagelo”, como eles chamam, que levou ao extermínio de mais de 90% da população, um outro fenômeno aconteceu: os bebês começaram a nascer híbridos, com traços humanos e animais. Por ter acontecido ao mesmo tempo e por conta desses híbridos serem imunes ao vírus, passou-se a acreditar que eles estavam relacionados e, até mesmo, que eles causavam o vírus. Os híbridos passaram a ser perseguidos por, bom, praticamente todo mundo, mas principalmente pelo violento exército do vilão Abott, os Últimos Homens.

 

É claro que, apesar das desgraças que a assolam, a humanidade não é de todo ruim, e depois da morte de seu Paba, Gus conhece o Grandão, um homem que no passado se juntou aos Últimos Homens na esperança de recuperar sua esposa e filho que desapareceram, mas que agora passa a ajudar Gus na sua jornada para encontrar outros como ele. No caminho eles conhecem Ursa, uma adolescente que criou seu próprio exército de resistência, o Exército Animal, composto de outros jovens órfãos que lutam para defender os híbridos. Ela se junta a Gus e Grandão (Jepp) e eles acabam encontrando Aimee e sua filha adotiva Wendy, uma menina híbrida. Aimee encontrou Wendy quando Wendy ainda era pequena e ajudar híbridos se tornou sua missão: ela encontrou outras crianças e acolheu a todos como filhos num zoológico abandonado que chamou de A Reserva.

 

No meio de tudo isso existe ainda a busca pela cura, personificada na imagem do Dr. Aditya Singh, um cientista que procura desesperadamente salvar sua mulher, que contraiu o flagelo. Ele encontrou uma cura temporária, que tem que ser reforçada de tempos em tempos, mas por anos a manteve em segredo, já que ela envolvia pegar material genético de híbridos, os matando.

 

Quando Gus, os outros híbridos e o Dr. Singh são pegos pelo General Abott. Grandão, Aimee e Ursa, são separados e tentam se salvar individualmente, mas com o mesmo objetivo: salvar as crianças e é aí que termina a primeira e começa a segunda temporada.

 

Se a primeira temporada de Sweet Tooth, lançada no meio de 2021, nos fez comparar a situação apocalíptica causada por um vírus com a nossa realidade na época no meio da pandemia (apesar de não ser relacionado, já que a história da série é baseada numa série de histórias em quadrinhos lançadas em 2009), essa segunda temporada nos encontra numa situação muito melhor no mundo real. No mundo de Sweet Tooth, no entanto, a situação vai de mal a pior e sua nova temporada já não pode ser comparada com a realidade (para nossa sorte), mas encontra uma nova comparação inevitável com uma outra produção artística: The Last of Us. É difícil se distanciar de outras obras com o mesmo tema, principalmente quando o tema é um mundo em destruição por conta de um vírus e uma criança órfã dotada de algo especial que pode ser a cura de tudo, ainda mais quando a criança é protegida por um homem com cara de poucos amigos, amargo com a vida que lhe tirou a família cedo demais, mas que reencontra seus sentimentos para salvar a criança que passa a considerar como um filho.

 

A mensagem por trás de ambas as produções é a mesma: até num mundo devastado por uma doença, piorado pela ganância humana, ainda há amor, esperança e pessoas pelas quais vale a pena lutar. Vou parar com as comparações por aqui, já que as séries escolhem caminhos diferentes para chegar à essa conclusão.

 

Em sua sequência, Sweet Tooth sabe dosar a quantidade de novidades e de elementos que caracterizaram a sua primeira temporada, principalmente quando se trata de novos personagens. Apesar das novas apresentações, o foco ainda está nos personagens que já conhecemos e aprendemos a amar (ou odiar) e queríamos conhecer ainda mais. O passado de Gus é amplamente explorado e as explicações dadas são satisfatórias, avançando a narrativa para um lugar que promete tramas interessantes para o futuro da série.

 

Gus foi o personagem que cativou e conquistou o público na arrebatadora primeira temporada e agora as crianças híbridas ganham um destaque maior e merecido, na tentativa de recriar essa conexão, o que acontece em partes. É inegável o apelo emotivo de um grupo de crianças (muito fofas, por sinal e eu assistiria facilmente uma série só do Bobby) sendo perseguidas incessantemente por um estereótipo de vilão e todos os atores envolvidos entregam todas as emoções necessárias com uma doçura natural e convincente, mas quando temos um grupo como esse, e nos apegamos a ele, é inevitável torcer para que ele fique bem, ou pelo menos o mais próximo disso. Sweet Tooth tem momentos felizes, mas é difícil manter a positividade que prega a história quando tantas tragédias acontecem em sequência.

 

Talvez um dos fatores mais negativos do formato de série que temos hoje, com temporadas de no máximo 10 episódios, em que cada momento deve servir diretamente ao objetivo do roteiro, é a falta de cenas em que podemos apenas ver os personagens sendo os personagens em sua essência, os famosos “fillers”. Isso faz com que uma série com um tema como esse fique carregada em excesso em muitos momentos e as cenas minimamente felizes sejam esparsas e curtas demais para criar alguma sensação de alívio.

 

Quanto à trama em si, os desdobramentos são inteligentes e intrigantes, a questão da humanização dos híbridos perante os humanos é intensificada e desafiada pela procura incessante de uma cura que salve o mundo. A figura da “mãe” do Gus é essencial para essa parte da trama e apesar de vermos pouco dela no presente (o final da primeira temporada já esclareceu que, ao contrário do que se pensava, ela estava viva), conhecer o seu passado abre diversas portas tanto para a história dessa temporada quanto para as próximas. Se estabelece uma relação com o Dr. Singh e os limites de até onde se pode e deve ir para salvar a humanidade, ao mesmo tempo que refletimos o que significa, de fato, a salvação desse mundo que já não é, e jamais voltará a ser, o que um dia foi.

 

Essa segunda temporada pode não ter tido o mesmo efeito da primeira e é um pouco mais “difícil” de digerir, mas deixa um gancho bom o suficiente para manter a vontade de acompanhar o restante da jornada de Gus e seus amigos nesse mundo perdido.

 

 

Por Júlia Rezende

8

Missão cumprida

pt_BR