Vidas Passadas

O drama “Vidas Passadas” (Past Lives), é o filme de estreia da diretora Celine Song (A Roda do Tempo), que conta com Greta Lee (The Morning Show), Teo Yoo (Love to Hate You) e John Magaro (First Cow) no elenco principal. O longa foi lançado no começo deste ano no Festival de Sundance, e já rodou por diversos festivais com muita aclamação. Por conta disso, o filme vem sendo uma das apostas do estúdio A2A para possíveis indicações nas principais premiações de cinema. Mas vale destacar que no Brasil, o filme só chega oficialmente aos cinemas em 15 de fevereiro de 2024.

O longa conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância que moram na Coréia do Sul. Tudo muda quando a família de Nora decide se mudar para o Canadá, e os dois acabam perdendo o contato. Vinte anos depois, eles se reencontram em Nova York, e embarcam numa complexa ideia de como suas vidas tomaram rumos diferentes, como se sentem um pelo outro e também os efeitos de suas escolhas.

Com um olhar íntimo e emocional, a diretora Celine Song, que também assina o roteiro do filme, retrata não apenas o amadurecimento dos personagens, mas também a evolução das relações através do tempo. A narrativa entrelaça momentos de distanciamento e reencontros entre Nora e Hae Sung, ressaltando o aspecto das mudança das personalidades, a cultura coreana, a imigração e também a influência das escolhas ao longo da vida, que causam o impacto com a inocência que eles tinham na infância.

Um dos trunfos notáveis de “Past Lives” é criar uma reflexão em volta do “E, se…”, onde os personagens dissertam durante todo o filme o conceito coreano In-Yeon (ou Inyeon), que refere-se à ideia de que as relações entre as pessoas são formadas ao longo de várias vidas. Acredita-se que os encontros entre indivíduos não são meramente acidentais, mas são o resultado de conexões que transcendem uma única existência. Essa filosofia sustenta que os laços e conexões entre as pessoas são resultado de interações e vínculos estabelecidos em vidas passadas, influenciando os relacionamentos e encontros atuais.

Ao contrário de muitos romances que exigem situações específicas para criar dramas e cenas clichês sobre amor e atração, o longa oferece uma narrativa muito realista sobre esse relacionamento platônico. Essa escolha pode soar até muito dura para o público, que acaba se apegando a história desse primeiro amor e criando uma conexão com suas próprias memórias e vivências.

Além disso, as atuações do elenco são incríveis, especialmente a de Greta Lee como Nora, que merece destaque. A sua interpretação entregam nuances emocionais através de um simples sorriso ou na forma de agir, que moldam uma protagonista interessante. Claro que quando Greta divide a cena com o ator Teo Yoo, a química transborda apenas com as trocas de olhares, onde poucas palavras e gestos sutis entregam essa confusão de pensamentos, agregando camadas significativas à profundidade da história dos dois.

É interessante como o roteiro traça seus pontos com gestos que cada personagem faz e age durante a vida. Um exemplo é a cena em que Hae Sung tenta consolar Nora por ter ficado em segundo lugar no exame escolar, e como esse pequeno elemento de uma emoção da personagem é um utilizado para fechar a linha narrativa com um final avassalador.

Em resumo, “Past Lives” é brilhantemente escrito, dirigido e interpretado. Celine Song incorpora o elemento de In-Yeon como uma visão pessoal sobre como as escolhas influenciam os destinos de cada pessoa e o poder das conexões que resistem ao teste do tempo. Um filme que convida o espectador a remexer o seu próprio passado, entregando um discurso complexo sobre laços que moldam nossas vidas para sempre.