Wicked: Parte 1
Diretor
Jon M. Chu
Elenco
Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jonathan Bailey
Roteirista
Winnie Holzman e Dana Fox
Estúdio
Universal Pictures
Duração
160 minutos
Data de lançamento
21 de novembro de 2024
Dentre os grandes musicais da Broadway, Wicked se destaca por muitos motivos, um deles por ser o musical cuja adaptação Cinematográfica mais era aguardada. Sendo um dos poucos que se tornam clássicos o suficiente para furar a bolha dos fãs de teatro, há muito se falava do tal filme, tanto que mais parecia uma lenda do que um projeto concreto. Nos últimos 10 anos, diversas notícias eram divulgadas, com todo tipo de elenco e de diretor, só para serem adiadas e, eventualmente, canceladas. Quando esse, o filme que finalmente vingou, foi anunciado lá em 2021, a notícia foi recebida com ceticismo pelos fãs e, mesmo depois de confirmado, as dúvidas continuaram depois que Ariana Grande e Cynthia Erivo foram escaladas como Glinda e Elphaba, respectivamente. A desconfiança, aliada às expectativas que só fizeram aumentar desde o primeiro anúncio de adaptação, criaram uma bolha de esperança que poderia dar muito certo ou terrivelmente errado, principalmente com o marketing promocional pesado por parte da Universal Pictures.
Com uma história e músicas já conhecidas e amadas por grande parte do público, Ariana Grande e Cynthia Erivo contavam com uma responsabilidade ainda maior do que o comum para um filme de Hollywood de grande orçamento. Acima de tudo, Wicked é uma história de amizade, que depende muito do talento – e especialmente da química – da dupla principal. Ariana Grande já havia provado seu talento para música, mas duvidavam de suas habilidades para atuação (apesar de ter começado sua carreira assim), já Cynthia Erivo era pouco conhecida pelo público geral, embora já fosse uma potência do teatro musical, inclusive ganhando um Tony por seu papel em A Cor Púrpura. A escalação da dupla foi inesperada, mas surpreendentemente acertada. Dentre todos os pontos positivos de Wicked (e são muitos, mesmo), é a química e o talento de Ariana e Cynthia que funcionam como força motriz do que chega muito perto de ser a adaptação cinematográfica perfeita e excedem as expectativas incrivelmente altas.
Talento, inclusive, é o que não falta, em todos os âmbitos dessa produção. O diretor, Jon M. Chu, dirigiu uma das melhores adaptações de musical da última década, o filme Em Um Bairro de Nova York (que merece muito mais reconhecido do que recebeu), que provou a capacidade de Jon M. Chu de expandir o universo dos palcos para as telonas sem perder a essência – com Wicked, ele faz a mesma coisa. A partir dos primeiros minutos de filme, fica evidente as referências ao Mágico de Oz, mas também a reverência a Wicked dos palcos, e isso se intensifica no decorrer do filme. Poucas vezes uma adaptação conseguiu se manter tão fiel ao seu material fonte ao mesmo tempo em que amplia seus horizontes. O musical dos palcos tem, em seus dois atos, o mesmo tempo de duração que Wicked: Parte 1 e ainda assim, o filme mantém toda a história dos palcos, quase que palavra por palavra. O que Jon M. Chu faz é dar tempo às cenas e seu desenvolvimento. Num momento em que os conteúdos estão cada vez mais curtos e resumidos, é corajoso e extremamente eficiente que Wicked dê tempo ao tempo. Uma cena em específico deixa esse movimento bem evidente e encapsula toda a essência de Wicked, é a cena do baile, determinante para a construção da amizade entre Glinda (Ariana Grande) e Elphaba (Cynthia Erivo) e que é transformada num momento monumental, de uma sensibilidade ímpar, com um trabalho delicado de câmera, som e, acima de tudo, atuação. Enquanto a comédia fica por parte de Ariana, Cynthia Erivo traz uma grande carga dramática, com uma personagem que carrega em si as complexidades de alguém que sempre é colocada à margem da sociedade e é vítima de julgamentos infundados, mas que não quer demonstrar fraqueza e Cynthia consegue mesclar força com vulnerabilidade como ninguém – isso sem mencionar seu talento ainda maior para a música. Para ser uma adaptação perfeita, Wicked ainda se esmera para contar, através das músicas (também adaptadas, contando com uma orquestra 5x maior), uma história que se complementa aos diálogos e às imagens de forma orgânica.
Marcando o encontro dos musicais clássicos de Hollywood com uma temática não só atual, mas atemporal, Wicked soube fazer um excelente do uso do material já disponível e de todo o talento que tinha à sua disposição para criar um musical capaz de agradar perfeitamente o público antigo ao mesmo tempo em que atrai, com a mesma intensidade, novos admiradores.
Por Júlia Rezende