Elton Hercules John, nascido Reginald Kenneth Dwight, já vendeu mais de 300 milhões de discos, teve inúmeros singles nos mais importantes rankings musicais, recebeu 5 prêmios Grammy, um Oscar, um Globo de Ouro, foi nomeado Cavaleiro Celibatário pela Rainha Elizabeth II e considerado pela revista Rolling Stone um dos 100 músicos mais influentes da era do rock. Fazer uma biografia a altura de Elton John sem esconder todos os seus conflitos, para se adequar a uma classificação indicativa de 13 anos, pode não ser fácil, mas “Rocketman” o fez sem deixar nada de fora, o que pode ter sido mais fácil tendo o próprio Elton como produtor executivo.
“Rocketman” acompanha a vida de Elton John (Taron Egerton) desde sua infância, em 1950 então interpretado por Mattew Illesley, até cerca de 1990. Começando do final, ele nos apresenta ao músico em sua primeira reunião de grupo para a reabilitação, vestindo um figurino laranja com chifres cheios de lantejoulas e assas de penas vermelhas tendo que exorcizar seus demônios internos voltando para quando Elton ainda era Reginald, um garoto tímido e solitário que implorava o amor do pai, interpretado por Steven Mackintosh, e ficava a mercê das mudanças de humor da mãe, interpretada por Bryce Dallas Howard.
O longa explora principalmente a descoberta de seus talentos musicais ainda criança e a relação com seus pais negligentes, a amizade com o compositor Bernie Taupin (Jamie Bell) de personalidade tão contrastante, o relacionamento conturbado com o empresário John Reid (Richard Madden), que só se mostrava interessado pelo dinheiro, e como esses relacionamentos contribuíram para a escalada de seus problemas com vicio e até mesmo a aceitação de sua sexualidade, mas o drama ao redor da sua história propriamente dita serve mesmo como um propulsor para os números musicais, que não se resumem somente aos palcos e momentos no estúdio, as músicas são utilizadas para expressar os sentimentos dos personagens, porém a narrativa fora desses momentos musicais acontece de forma previsível como já vimos em muitos outros filmes que retratam seus protagonistas sendo consumidos pelas drogas e o sucesso.
O diretor, Dexter Fletcher, que substituiu Bryan Singer, faltando duas semanas de filmagem, em “Bohemian Rapsody”, e o roteirista, Lee Hall, construíram os números musicais de maneiras fantasiosas e criativas que fazem com que alcancemos um outro nível de compreensão das letras, passando a enxergar de outra forma músicas que conhecemos há tantos anos e já ouvimos milhares de vezes, ainda que você não seja um fã aficionado de Elton John é impossível não reconhecer seus grandes sucessos, frequentes em filmes e nas rádios, e aqui eles são apresentados de uma maneira completamente diferente, cantados pelo próprio Taron Egerton, pontuando momentos decisivos da trama de forma ousada e grandiosa, o que faz com que desejemos que o resto do filme fosse tão ousado e bem executado como os números musicais.
Todo o elenco entrega atuações excelentes sempre no tom certo, mas é Taron Egerton quem é realmente o coração do filme, ele passa de jovem tímido e talentoso a rockstar extravagante com excelência, conseguindo mostrar as diferentes camadas de seu personagem, carismático e vulnerável, a imersão do ator no papel realmente impressiona, durante as duas horas de duração do filme, Egerton, que é mais conhecido por seu papel no filme de ação e comédia “Kingsman”, faz das músicas suas e parece sumir para dar vida ao seu personagem.
Assim como Elton John, Rocketman parece mais confortável nos momentos extravagantes e extraordinários, e são nesses momentos que o filme decola tão alto quanto uma pipa que outros detalhes parecem nem importar, e eu acho que vai demorar muito, muito tempo até que se faça outra biografia musical tão excêntrica, divertida e que sirva tão bem ao seu tema.