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Quando ‘Sete Homens e Um Destino’ (‘The Magnificent Seven’, 1960) dirigido por John Sturges transportou a narrativa de ‘Os Sete Samurais’ (‘Shichinin no Samurai’,1954) do diretor japonês Akira Kurosawa para o faroeste americano, o contexto da história original foi subvertido, mas manteve sua essência narrativa. Ainda que perdesse em qualidade em relação ao original, fez tanto sucesso que rendeu continuações e releituras em muitos filmes, mesmo décadas mais tarde. Tais como a animação da Pixar ‘Vida de Inseto’ (‘A Bug’s Life’, 1998), o “Cult B”, produzido pelo Roger Corman, um dos maiores realizadores do gênero, ‘Mercenários das Galáxias’, (‘Battle Beyond the Stars’, 1980) e em sátiras como ‘Três Amigos!’ (¡Three Amigos!’, 1986), estrelado Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short.

‘Sete Homens e Um Destino’ se inspirou em ‘Os Sete Samurais’ transformando os Samurais, símbolo da cultura japonesa, em Cowboys, ícones da cultura norte-americana. A transição funcionou de forma muito interessante, ainda que a versão americana perdesse em capacidade de representação histórica em relação ao original nipônico. Por outro lado, ‘The Magnificent Seven’, ganhava em valor de entretenimento, se tornando muito mais atrativo para os espectadores ocidentais e se tornou tão popular dentro do gênero, que rendeu três continuações: ‘A Volta dos Sete Magníficos’ (‘Return of the Seven’, 1966), ‘A Revolta dos Sete Homens’ (Guns of the Magnificent Seven, 1969) e ‘A Fúria dos Sete Homens’ (The Magnificent Seven Ride!, 1972). Teve, também, uma série produzida pelo canal CBS, no final dos anos 90: ‘Sete Homens e Um Destino’ (Ghosts of the Confederacy, 1998).

A refilmagem de 2016 dirigida por Antoine Fuqua (‘Dia de Treinamento’, de 2001) segue a mesma narrativa dos antecessores, onde um herói tem que reunir outros pistoleiros, para ajudar a treinar os habitantes de uma vila e se defenderem dos ataques de um grande número de bandidos, chefiados pelo vilão que os oprime, Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard). O remake de Fuqua, segue o espirito do original, privilegiando a diversão em detrimento da reflexão, modernizando a linguagem audiovisual e mesmo que ele desenvolva um pouco mais alguns personagens, ele opta por não se aprofundar. Mesmo assim o longa-metragem se atualiza em termos de diversidade de representação político-social, pois no enredo quem toma a iniciativa de ir em busca de ajuda, desta vez é uma mulher, Emma Cullen (Haley Bennett), que posteriormente, também ajuda na luta pegando em armas.

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Crédito: Divulgação

O personagem principal Sam Chisolm (Denzel Washington) ser vivido por um ator negro representa uma louvável mudança, em relação ao original, que tinha em sua maioria atores brancos. Na franquia americana, um ator negro só foi introduzido no elenco principal, no terceiro filme. Temos ainda o oriental Billy Rocks (Byung-Hun Lee), o mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) – papel que quase foi interpretado por Wagner moura – e ainda o nativo americano Red Harvest (Martin Sensmeier). É um grupo etnicamente improvável para época e contexto histórico-social em que o longa-metragem se passa, mas é para este tipo de abstração que o cinema serve, se a realidade não era “boa” o suficiente, nos resta imaginar um contexto melhor.

O longa nos apresenta cenas visualmente impressionantes, com os característicos planos abertos de deserto e enquadramentos típicos do gênero. A edição consegue nos imergir nas cenas de tiroteio, tornando as cenas de ação empolgantes em algumas partes, principalmente pelo fato de a produção não se importar em cometer exageros cênicos, por entender que pode “brincar” com o próprio gênero. Porém, a trilha sonora está longe de ser tão marcante quanto a de Elmer Bernstein, que posteriormente virou tema dos comerciais dos cigarros Marlboro. Ainda que o experiente e premiado James Horner se esforce, sua música não permanece ressoando em nossas mentes após o final do filme, como acontecia com a primeiro citada.

Após dirigir o premiado ‘Dia de Treinamento’, Antoine Fuqua investiu nos thrillers de ação, com foco maior na diversão, como em ‘Invasão a Casa Branca’ (2013), ‘O Protetor’ (2014) e mesmo no drama ‘Nocaute’ (2015) o valor de entretenimento prevaleceu. Ainda que seus filmes mais recentes tenham vários méritos como qualidade de diversão, nenhum tem a “brutalidade dramática” de ‘Training Day’. Em ‘The Equalizer’, retomou a parceria com Denzel e agora em 2016 reúne novamente a dupla Washington e Hawke, que ainda que dividam espaço com outros competentes atores, marcam uma presença de familiaridade.

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Crédito: Divulgação

O elenco é imensamente carismático e a interação entre eles é satisfatória, entretanto, isso faz com que o roteiro se debruce demais nos clichês e frases de efeito, esquecendo de desenvolver os personagens através dos diálogos. Alguns são melhor explorados do que no filme da década de 60, como o personagem “traumatizado” pela guerra, interpretado por Ethan Hawke, mas havia espaço para muito mais. O ponto mais fraco ainda é o vilão Bartholomew Bogue (Sarsgaard), que apesar de conseguir impor presença nas primeiras aparições, vai cansando a paciência do espectador que for minimamente mais exigente, conforme a narrativa se desenvolve. Estes “defeitos” vão desagradar a plateia mais crítica, mas vão passar despercebidos ao público médio.

Quanto aos méritos do longa, no quesito atuação, o destaque certamente vai para Denzel Washington, que sempre convence quando aparece com suas expressões de “bom moço”, porém firmes e de “poucos amigos” quando as situações pedem. Vale mencionar ainda a participação de Vincent D’Onofrio, que apesar de aparecer pouco, desperta o interesse por seu personagem sisudo, de poucas palavras, mas que impressiona por sua corpulência. Chris Pratt praticamente faz uma versão de Peter Quill / Star-Lord do velho-Oeste, que pode agradar pela familiaridade, mas não deixa de ser criativamente preguiçosa.

Como já destacado, além de ter potencial para divertir diferentes públicos, principalmente os que assistirem na tela grande, o remake de Fuqua renova a linguagem audiovisual e abre espaço para a representatividade político-social de minorias raciais e culturais. Entretanto, apesar de ter melhorado alguns aspectos, perdeu a chance de se igualar aos melhores faroestes contemporâneos, como ‘Os Imperdoáveis’ (1992), ‘Jango Livre’ (2012), ‘Os Oito Odiados’ (2015), ‘Slow West’ (2014) e ‘Bone Tomahawk’ (2015). A refilmagem de ‘Sete Homens e Um Destino’ segue a mesma identidade do original norte-americano, apresentando-o para uma nova geração, mas continua aquém de ‘Os Sete Samurais’ e perdeu a chance de “melhorar” o que já havia sido feito nos anos 60. Se ele conseguir o mérito, de além de entreter o público mais jovem, fazer com que eles se interessem por assistir os originais, tanto ‘The Magnificent Seven’, quanto ‘Shichinin no Samurai’ já justificará sua existência.

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Crédito: Divulgação




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