Há 25 anos foi lançado Space Jam, um filme estrelado pelo astro do basquete Michael Jordan e os astros da Warner Bros., os Looney Tunes, numa combinação inusitada entre live-action e desenho 2D. No filme, que rapidamente se tornou um clássico, Jordan é obrigado a se juntar aos Looney Tunes num jogo de basquete espacial contra aliens de desenho para libertar seus amigos jogadores humanos que tiveram seus talentos roubados.
Space Jam: Um Novo Legado começa seguindo os mesmos passos do original, mas agora o astro das quadras já não é mais Jordan e sim LeBron James (que inclusive já se aventurou nas telas outras vezes, sempre interpretando a si mesmo). A cena de abertura é dedicada à carreira de LeBron no basquete, destacando suas vitórias e principais acontecimentos. Logo depois, conhecemos a infância do jogador e os sacríficos que teve de fazer para se tornar um dos melhores de todos os tempos. James quando criança (Stephen Kankole) quer ser como todos os outros, jogar videogames e se divertir, mas seu treinador lhe ensina que, se ele quer atingir seu potencial máximo e mudar a vida de sua família, tem que ser 100% focado no trabalho, sem distrações.
Quando somos levados aos dias de hoje, conhecemos o James pai de família que só quer que seus filhos também alcancem todo seu potencial nas quadras, mas para isso se esquece da diversão ou de ao menos perguntar se eles querem, de fato, se tornarem astros do basquete. Inclusive, seu filho mais novo, Dom (Cedric Joe), tem outros planos para seu futuro: ele gosta de basquete, mas não nas quadras. Dom tem 12 anos de idade, é um tipo de gênio da tecnologia e gasta seu tempo desenvolvendo seu próprio jogo de videogame inspirado no esporte do pai.
A divergência entre o jogo de Dom e de LeBron é a trama principal do filme e tudo começa quando LeBron leva o filho à uma reunião nos estúdios Warner Bros. numa tentativa de estreitar sua relação. Lá, ele conhece Al-G Ritmo (um sempre ótimo Don Cheadle), o novo algoritmo da Warner que sugere que LeBron assine um contrato com eles para aparecer, como animação, em diversos títulos do conglomerado Warner e se tornar uma espécie de garoto propaganda. LeBron não curte a ideia, mas seu filho se interessa por toda a tecnologia por trás do algoritmo e do novo servidor da Warner e encontra em Al-G a atenção que seu pai não dá. Sem perceber que Al-G é um vilão, Dom cai em seu papo e acaba sendo sequestrado para dentro do Server-verso da Warner. Cabe então ao seu pai tentar salvá-lo e, para isso, é claro que ele vai precisar de uma – ou várias – mãozinhas.
É aqui que entram os Looney Tunes. Para encontrar com Pernalonga e pedir sua ajuda, LeBron entra no mundo animado, vira animação também e descobre que os Tunes também foram vítimas da vilania de Al-G e estão espalhados pelo universo WB. LeBron e Pernalonga então juntam forças para salvar o mundo das garras do algoritmo.
Assim como no primeiro Space Jam, a autopropaganda da Warner está presente, mas dessa vez com muito mais força. E mais frequência também. O universo Warner Bros. é amplamente, e talvez exageradamente, explorado. Desde Harry Potter, Matrix, Game of Thrones até Mad Max, passando por vários outros clássicos como Casablanca, Mulher-Maravilha e muitos outros. As referências são divertidas, cada Looney Tune está perdido num universo diferente de acordo com sua personalidade e as interações geram boas risadas no geral.
Algumas coisas sobre o enredo, no entanto, acabam não encaixando tão bem. A aliança entre LeBron e os Tunes, principalmente com Pernalonga, acaba não passando disso, uma aliança. O maior foco da WB é também o de autopromoção muito mais do que de criar um vínculo emocional entre os personagens ou entre os espectadores (como no plano “maligno” de Al-G) e as referências aos outros títulos ganham maior destaque que os Looney Tunes em si.
O jogo de basquete entre o time dos Tunes e do Al-G, acompanhado de Dom, não segue as regras de um jogo normal (para desespero de James), mas sim as regras do Dom Ball, o videogame criado por Dom. A partida, apesar de divertida, acaba se tornando um pouco confusa e a plateia formada por personagens aleatórios do conglomerado Warner pode distrair, por mais que eu tenha achado divertido ficar “caçando” por rostos familiares nas arquibancadas (desde Pennywise e feiras de “Invocação do Mal” até os amigos de Alex Delarge de “Laranja Mecânica”). O problema é que para um público infantil muitas dessas referências se perdem e nenhum elemento atinge seu potencial.
É difícil adaptar clássicos e manter sua “magia” enquanto adiciona elementos atuais e modernos. A Warner Bros. tentou e, por mais que tenha seus pontos positivos e possa agradar aos mais novos, ou ao menos críticos, Space Jam não é tudo que poderia ser para levar adiante seu legado.