Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é impossível

SINOPSE

O cinema e os efeitos especiais/visuais, desde George Meliés e Willis O’Brien (um dos pioneiros a usar o stop-motion, responsável por King Kong, em 1933), sempre tiveram uma relação de muita proximidade e combinaram perfeitamente feito a manteiga e o pão. Mesmo depois do período “pós Guerra nas Estrelas” – que revolucionou a arte dos efeitos visuais – e apesar da tecnologia CGI (basicamente imagens geradas por computador) já ter sido empregada em filmes no início dos anos 70, grandes nomes como Stan Winston (O Exterminador do Futuro, 1981) e Rob Bottin (A Mosca, 1986), ainda trabalhavam como gênios da prótese e maquiagem em bonecos – isso por conta de alguns excessos de CGI que acabaram em “fracassos” comerciais na época, como Tron (1982) – pouco antes dos estúdios de Hollywood se tornarem “escravos” do computador na década seguinte.

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Em 1989, James Cameron decidiu “recriar” um tentáculo através do CGI no filme “O Segredo do Abismo” e o efeito foi tão bem executado e aceito pelo público que ele voltaria a usá-lo com maestria em “O Exterminador do Futuro 2” (1991). E o que dizer dos dinossauros de Steven Spielberg em “Jurassic Park” (1993) ou as maravilhosas histórias de Forest Gump em 1994? Eu poderia citar pelo menos um exemplo clássico por ano até os dias de hoje, como Matrix (1999), O Senhor dos Anéis (2001 – 2003) ou Avatar (2010). Ou seja, o CGI é um grande aliado de uma história muito bem contada, capaz de elevar o filme a um nível clássico facilmente. Mas vamos ao que realmente interessa hoje: Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é impossível, novo filme do diretor/roteirista Brad Bird (Os Incríveis, Ratatouille), que estréia essa semana nos cinemas e com mistério e efeitos visuais caprichados deixou muitos fãs do cinema intrigados.

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A trama de Tomorrowland é bastante complexa, nela ocorre um improvável encontro de uma curiosa e extremamente (mesmo!) otimista garota chamada Casey (Britt Robertson), interessada pela ciência e um homem que na infância era um “garoto prodígio” das invenções chamado Frank (George Clooney sendo George Clooney…), desiludido e sem esperanças na humanidade graças ao caos que a sociedade humana se tornou com o passar do tempo. Através de uma espécie de ”broche”, que funciona como um transportador, em algum lugar do espaço/tempo eles chegam a Tomorrowland, uma cidade futurística onde todos são brilhantes e criam sempre novas formas de melhorar a vida da humanidade. O lugar é governado pelo sério Nix (Hugh Laurie, muito bem no papel, diga-se de passagem). Juntos da jovem aliada boa de briga Athena (Raffey Cassidy), eles vão tentar acabar com a tirania e manter a esperança de um futuro melhor.

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Apesar desta trama difícil até de explicar em palavras, o filme acerta no visual muito bem feito – onde está bem claro que a produção não poupou despesas – e tem uma mensagem interessante e bastante clara: “vamos ser mais otimistas, acreditar nas nossas crianças e cuidar bem delas, porque elas são o nosso futuro”. Mas Tomorrowland se torna um filme bem problemático pelo excesso de ambição na forma como seu audacioso roteiro é contado. Por se tratar de um filme da Disney e a escolha de um diretor experiente em animações para a garotada, naturalmente esperamos que o conteúdo seja mais voltado ao público infanto-juvenil, mas como adultos, sempre conseguimos nos divertir e tirar alguma lição destes filmes. E é justamente onde Tomorrowland “vacila” mais: não se leva a sério, sendo infantil e trivial nas suas respostas para o público adulto e ao mesmo tempo é absurdamente confuso e pretensioso para que o público mais jovem possa absorvê-lo.

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Apesar de suas idéias inspiradoras, que provavelmente ficaram ótimas no papel, a fluidez da história não funcionou na tela. E, ao perceberem isso, optaram pela saída mais “fácil”: caprichar nos efeitos visuais em detrimento a narrativa (muitos fazem isso, não concorda?), focar no carisma dos personagens, abusar dos momentos cômicos, etc. Há uma “regra” simples na arte de se contar uma história dentro do cinema que diz que tudo, absolutamente tudo o que for mostrado na tela é relevante e tem que ser muito bem-pensado e bem-executado com o propósito de mover o filme adiante, rumo a sua resolução. Ana Maria Bahiana escreveu uma vez que em um filme de aventura, como Tomorrowland, em meio a tantas perseguições, confrontações e emboscadas, algo deve acontecer para impulsionar a narrativa, criando situações que possam juntar lá na frente os fios soltos deixados pelo caminho. Aqui não temos isso, o espectador é “jogado” no meio da confusão sem grandes pistas e fica se perguntando “o que?”, “quando?”, “onde?”, “quem?”, “como?”…

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As atuações são boas, apesar de Clooney ter a chance de ousar um pouquinho mais, mas ele optou por não se arriscar muito. Britt Robertson no papel principal, parece que atua um tom acima do necessário, e seu excesso de otimismo chega a ser irritante às vezes. Os destaques são a bela jovem Raffey Cassidy, bem à vontade no papel e Hugh Laurie como o governador, que nas poucas aparições na tela passa confiança e plausividade, com direito a um ótimo discurso no terceiro ato do filme. Eu não vou criticar a edição de Walter Murch (Apocalypse Now, 1979) porque ele é um “mito” na área, em conjunto com o freqüente colaborador do estúdio Craig Wood (Guardiões da Galáxia, 2014), mas tem algo ali que eu não gostei. Como eu já expressei, o maior problema do filme está na maneira como sua história foi contada, então a trilha sonora e a fotografia estão ok, como o restante do filme.

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Sendo assim, concluímos que em tempos pessimistas e de filmes apocalípticos, Tomorrowland é um esforço ousado por querer nos mostrar o lado “meio cheio” do copo. Mas querer nem sempre é poder e foi um erro da direção/produção deixar que o filme saísse desta forma. É importante lembrar que de nada adianta ter uma ideia brilhante e não fazer o filme pensando nas pessoas. Já disse isso anteriormente, o bom filme é aquele que é feito pensando no seu público e não a tentativa – na falta de palavra melhor – pretensiosa de tentar empurrar para o público uma ideia assim, sem mais nem menos. Se tivessem dado mais história e menos “CGI” ao espectador, provavelmente o resultado seria bem mais satisfatório, mas infelizmente, não foi desta vez.

Trailer do filme:

 

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