UMA PITADA DE SORTE | INCONSISTÊNCIAS NO ROTEIRO E PIADAS SEM GRAÇAS MARCAM NOVA COMÉDIA NACIONAL

“Uma Pitada de Sorte” traz como protagonista a veterana da comédia nacional Fabiana Karla, que já comprou seu talento para o humor inúmera vezes, ainda que nem todas as produções das quais fez parte tenha alcançado sucesso com o gênero. Infelizmente, o novo filme está entre as produções fracassadas, não por falta de qualidade de Fabiana Karla – nem dos outros membros do elenco – mas sim por, bem, todo o resto.

Pérola mora em Niterói com seu irmão mais novo Fred (JP Rufino) e sua mãe Gina (Jandira Martini). A herança e sustento da família é um negócio de animação de festas, no qual Pérola ajuda sua mãe trabalhando como animadora e quebrando qualquer galho necessário, mas Pérola divide seu tempo com sua verdadeira paixão: a cozinha. Ela passa seus dias “viajando” de Niterói para a zona sul do Rio de Janeiro onde trabalha como sous chef de um restaurante badalado. Seu trabalho no restaurante é auxiliar o chef e eventualmente comandar a cozinha quando ele não está, mas Pérola tem o sonho de ter seu próprio restaurante e criar seus próprios pratos, quando ela desafia a vontade de seu chefe para dar um “toque especial” no prato de um casal importante no restaurante, ela acaba perdendo seu emprego.

Ao invés de dar tudo errado, as estrelas se alinham e Pérola acaba conseguindo um emprego na televisão, para trabalhar ao lado de Diego (Iván Espeche) em seu programa culinário, que tem como diretora a durona Margô (Regiane Alves), ah, Diego e Margô eram o casal que acabou levando Pérola à demissão no restaurante, e por mais que Margô não estivesse satisfeita com a contratação de Pérola no programa, Diego e os produtores acabaram a fazendo mudar de ideia. Com seu novo emprego começam também as complicações, já que Pérola tem que se desdobrar ainda mais para trabalhar nos dois lugares e sem que sua mãe saiba do programa. Agora, por que uma mulher adulta e autossuficiente precisa esconder um ótimo emprego de sua mãe? Essa é só uma das questões que não serão resolvidas durante a hora e meia de filme.

As inconsequências dessa comédia não são poucas. A justificativa para que Pérola continue trabalhando com sua mãe com o negócio de festas mesmo enquanto trabalhava no restaurante e depois na televisão é de que o negócio era de família e sua mãe esperava que ela o assumisse em algum momento, mas em momento algum é realmente explicado de forma convincente o porquê de isso ser um grande problema para Pérola e fica óbvio que o único objetivo dessa indecisão na trama é colocar Pérola em situações que deveriam ser engraçadas (mas passam longe disso) ao tentar conciliar os dois trabalhos na sua agenda.

Pérola começa dizendo que seu sonho é ter um restaurante, mas esse sonho parece se perder em meio aos acontecimentos do filme, e lá pra metade já fica difícil dizer se era mesmo isso que ela queria, já que essa informação é esquecida. Ela é apresentada como uma mulher muito simples e “do povo” e está morrendo de medo de tentar entrar num programa de TV, mas assim que as câmeras são ligadas em seu teste, ela apresenta como uma profissional, também sem qualquer explicação.

Nenhuma situação em que Pérola está envolvida é minimamente crível e nem ao menos divertida, para que pudesse compensar. Alguns personagens chegam a ter potencial, como Raylane (Flavia Reis), a vizinha fofoqueira e o produtor Bob (Pedroca Monteiro), mas não são bem aproveitados. As piadas, tanto físicas quanto contadas, são muitas, mas as risadas são escassas.

O lado romântico também está presente, tanto na figura de Lugão (Mouhamed Harfouch), o melhor amigo e fiel escudeiro de Pérola quanto do chef Diego. Talvez a parte de Lugão seja a que mais funcione, principalmente comparando com a trama de Diego, que é tão inconsistente e decepcionante quanto o restante do roteiro.

É uma tristeza ter tantos pontos negativos para se ressaltar num filme, principalmente se tratando de um filme brasileiro, mas infelizmente “Uma Pitada de Sorte” não dá muito espaço para que outros tipos de comentários sejam feitos.

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