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Particularmente, nunca compreendi a crítica de fãs sobre a adaptação do personagem Hellboy realizada aos cinemas pelo mexicano Guillermo Del Toro. Por mais que não costumo tratar meus textos em primeira pessoa, para esse início de escrita, será necessário. Isso porque sempre enxerguei tanto Hellboy (2004) quanto Hellboy II: O Exército Dourado (2008) duas obras consistentes, com personagens bem construídos e uma história interessante envolta daquele bizarro universo, o que combinou perfeitamente com o cineasta.
Minha admiração era tanta que acompanhei todas as reviravoltas na grande novela que foi a produção do terceiro filme até a então confirmação do remake. No fundo, achei válido, ainda com aquela decepção por saber que nunca viria a conclusão de Del Toro para um personagem que traz, na bagagem, um universo perfeito para ele. E só com o desenvolvimento da produção desta nova versão do “herói” que fui entender as críticas, e claro, elas envolviam a adaptação.
Colocado em uma história solo em 1993, Anung un Rama – nome verdadeiro de Hellboy – se desenvolveu e ganhou a atenção de leitores pela visão – ou melhor, pela ponta do lápis – de Mike Mignola. Muito inspirado na literatura pulp e expressionismo alemão, o americano se aproveitou muito de mitos folclóricos do leste europeu, além de narrativas góticas e vitorianas para construir um universo único, envolvendo muitos ensinamentos sobre mitologias sombrias e sobrenaturais. E é justamente nesse quesito que a adaptação de Del Toro não agradou, já que muitos elementos essenciais dos quadrinhos não foram colocados no filme. Porém, agora, a versão Neil Marshall consegue desfrutar e explorar os principais elementos que as páginas de Mignola oferecem. Entretanto, o cineasta só esqueceu de fazer o essencial: cinema.
Pode parecer exagero, mas bastam apenas três minutos para compreender a nova versão escrita por Christopher Golden, Andrew Cosby e com participação do próprio Mignola. Não porque o roteiro já apresenta toda a trama futura – o que já causa previsibilidade – mas também pela mediocridade que o texto entrega.
A tentativa dos três foi iniciar o longa tal qual O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001), com uma clássica narração para explicar um acontecimento passado, que servirá de plot para o tempo presente. Apesar de uma escolha narrativa justa para introdução – mesmo não sendo nada original – os três não estabelecem uma comunicação entre eles mesmos e entregam não só um texto mal escrito como lotado de pleonasmo e exposições desnecessárias, ao ponto da narração apresentar algo e a fala de um personagem trazer a mesma informação – isso sem falar que o longa sente a necessidade de explicar quem é o Rei Arthur.
É nesse mesmo tempo que é fácil compreender o tom do humor do longa: mal escrito e sem graça.
Em estudos de roteiro, é comum encontrar declarações sobre a importância de determinar o tom e a história nos primeiros minutos. Nesse quesito, os quatro – incluindo Marshall nessa – fazem um trabalho perfeito. Já que, após os créditos de abertura, Hellboy segue o caminho para o inferno: ladeira abaixo.
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Na época de pré-produção, muito se discutia sobre quem substituiria Ron Perlman no papel do personagem e David Harbour se mostrou à altura na época, ainda mais após o sucesso de seu personagem em Stranger Things (2016-). E no longa se comprovou. Não que Harbour tenha uma ótima atuação – até porque ele acaba sendo muito impedido pela péssima maquiagem – mas por ter se entregado ao papel.
Visualmente, Hellboy consegue agradar, porém não totalmente. Isso porque o novo visual consegue trazer mais elementos demoníacos e menos Ron Perlman pintado de vermelho. No entanto, a maquiagem envolta de Harbour é mal estabelecida visualmente não funcionando por grande parte do longa, principalmente em planos mais fechados. Outro problema sério está no texto do personagem. Por mais que o ator demonstre interesse em querer agradar com sua interpretação, nenhuma fala é bem encaixada, além de muitas parecerem ter sido escritas por uma criança de dois anos, com falas gratuitas ou muito expositivas, principalmente quando envolve o humor do personagem. Hellboy tem seus tons cômicos, porém, muitos envolvem o sarcasmo ou dependem da situação. Aqui, o roteiro escolhe insistir em um humor bobo, que poderia combinar com um público mais novo, mas fica longe de conquistar o espectador maduro que o longa tenta atingir.
O mesmo ocorre com a história. Golden, Cosby e Mignola conseguem sim trazer a verdadeira essência dos quadrinhos, com mitologias clássicas tratadas nas histórias, como a origem arthuriana de Hellboy, sua união com cavaleiros em busca de gigantes (HQ The Wild Hunt), Osiris Club, o dragão da saga The Fury, Lady Hatton, personagens de sua jornada no México, Gruagach, Baba Yaga, Lobster Johnson e, claro, Nimue. É inevitável dizer que agora entenderam a necessidade do fã, tanto que todas as vontades foram realizadas.
No entanto, nada é bem desenvolvido. Por trabalhar milhares de conceitos dentro de duas horas, o roteiro não consegue deixar sua narrativa e seus personagens de maneira genuína e toda a construção é forçada e estraga ainda mais a experiência do espectador, que não só precisa refletir sobre todas as informações jogadas em tela, como também precisa aguentar a baboseira apresentada. Toda a narrativa é inconsistente, com apresentação de subtramas que forçam a conversa com a trama principal, mas que servem só para comprovar ainda mais a deficiência visual que o longa sofre.
Nesse ponto, está longe do Hellboy ser o único personagem visualmente decepcionante. O filme é inteiro composto por bons conceitos visuais de criaturas, porém, todas são mal executadas. A computação gráfica relembra o auge do Playstation 2, no qual possuía criaturas mais convincentes quanto no longa de Marshall. Inclusive, a baixa qualidade atrapalha o que o longa mais aposta: a violência. Por mais brutais que sejam as lutas, com combates e mortes grotescas, tudo é realizado com um CGI pobre, deixando absolutamente nenhum embate ou tensão crível o suficiente para convencer o espectador. O que só serve como mais um gatilho para Hellboy ser, até então, a pior produção do ano.
São características assim que fazem a saudade por Del Toro só aumentar. Por mais que o cineasta mexicano não tenha explorado a essência dos quadrinhos a fundo como esta nova versão, seu universo é muito melhor estabelecido e mais crível – até pelo uso de efeitos práticos. Ponto crucial para provar que nem sempre o fan service supera um bom roteiro e direção.
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