SINOPSE PEQUENA

Paul Thomas Anderson (PTA) abandonou a escola de cinema por que descobriu que o que te faz ser um cineasta de verdade não é um diploma na parede, e sim a realização de filmes, na prática. Certa vez ele declarou que no curso de cinema, decorava muita teoria e técnica, mas descobriu que começou a conhecer o real cinema quando passou a observar os diretores que gostava mais de perto, assistindo tudo o que eles assistiam. Também é verdade que PTA foi considerado um “prodígio” em cada escola preparatória que frequentou, e aos 26 anos já lançava seu primeiro filme, baseado em um curta-metragem seu, chamado “Jogada de Risco” (1996), contando com a participação de nomes de peso, como Samuel L. Jackson, Philip Seymour Hoffman, Gwyneth Paltrol, entre outros.

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Um diretor que sempre escreve e produz seus filmes, PTA é extremamente seletivo – em quase vinte anos de carreira, tem apenas sete filmes feitos para serem lançados diretamente para o cinema, sendo que já foi indicado a incríveis 6 Oscar e 5 Baftas. Muitos dos seus trabalhos têm um toque muito autoral e uma estilização bem pessoal, seja na linguagem ou na estética. Prova disto é que trabalhou com o diretor de fotografia Robert Elswit em quase todos os seus filmes, (com exceção de “O Mestre” em 2012), e este ganhou seu único Oscar na carreira trabalhando em parceria com PTA em “Sangue Negro” (2007).
Talvez pelo fato de não estar envolvido em projetos com tanta frequência e também não trabalhar em produções de orçamentos muito exagerados, PTA é um nome pouco conhecido fora dos “círculos entre cinéfilos” por aí. Muitos não devem saber que o diretor conseguiu extrair de Adam Sandler possivelmente a melhor performance de sua carreira, no ótimo “Embriagado de Amor” (2002). Por outro lado, essa seletividade, somada a incontestável qualidade de seus trabalhos – vide Prazer Sem Limites (1997) e Magnólia (1999), sendo que Tom Cruise ganhou o Globo de Ouro e foi indicado ao Oscar por este último – resultou em uma “pequena” legião de fãs (uma espécie de cult-following) que aguardam ansiosamente seus próximos trabalhos, e estão preparados para assistir seja lá o que o diretor fizer.
Seu trabalho mais recente, que chega em breve aos cinemas brasileiros é o drama policial com pitadas de comédia “Vício Inerente”, estrelado pelo excelente Joaquin Phoenix – arrisco dizer que no último filme dos dois juntos, “O Mestre”, Joaquin alcançou sua melhor interpretação na carreira. O fato de eu insistir em mencionar que alguns atores conseguiram as melhores atuações de suas carreiras sob o comando de PTA, vem da forma como o diretor trabalha com seu elenco. Como é ele quem escreve seus roteiros, PTA usa uma metodologia semelhante a que Scorsese usou em “Os Bons Companheiros”, dando liberdade criativa para seus atores principais adicionarem falas, improvisarem e até ajustarem a história.

INHERENT VICE

Vício Inerente tem uma premissa um pouco semelhante a de “Chinatown” (1974), onde um detetive particular (Joaquin Phoenix) é “contratado” (por sua ex-namorada) para solucionar um caso relacionado a um bilionário figurão do ramo imobiliário e, ao investigar o caso, vai se envolvendo em problemas cada vez maiores e descobrindo uma grande conspiração que envolve traficantes, policiais, dentistas e etc., chegando a um ponto da trama onde não há mais volta. Situado nos experimentais e psicodélicos anos 60, o detetive não consegue largar seu vício pelas drogas e acaba alimentando alucinações, além de não ter esquecido completamente seus sentimentos pela ex-namorada (Katherine Waterston, em uma ótima performance).
Aqui PTA conta uma história com muitas subtramas e personagens, como de costume, mas Vício Inerente é um filme que pode fazer o espectador perder facilmente o fio da meada, o que chega a ser um pouco frustrante para aqueles que gostam de entender por completo um raciocínio, que estão habituados a uma narrativa mais coerente. Com um ritmo frenético de pistas descobertas, novos personagens ganhando cada vez mais importância conforme a história avança rumo a sua resolução, o diretor tem êxito em adaptar o aclamado romance homônimo de Thomas Pynchon, que com sua maestria faz da trama um meio de destilar todo seu conhecimento daquela época, com grande riqueza de detalhes.

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Começarei analisando os pontos mais fracos do filme. Como eu mencionei anteriormente, os “fiéis” de PTA vão gostar, pois terão mais um trabalho do diretor para ver e rever várias vezes. Mas a verdade é que, mesmo razoável, Vício Inerente é um dos seus filmes mais fracos. A narrativa é um tanto confusa e com algumas soluções aparentemente “forçadas” na trama, a não ser que propositalmente PTA tenha feito do filme uma analogia do próprio protagonista, incapaz de manter o foco e sem a absoluta certeza de chegar ao lugar certo no final. Mas o que mais decepcionou foi sem dúvidas a fraca caracterização dos anos 60, bem como os figurinos apagados. Quem conhece o trabalho do diretor sabe o quão estilizados e muito bem caracterizados são seus filmes, portanto, ponto negativo neste aspecto. A última crítica fica por conta do grande elenco (em quantidade e qualidade, como Josh Brolin, Reese Witherspoon, Jena Malone, Owen Wilson, etc.). O diretor geralmente consegue lidar facilmente com o grande número de personagens e seus dramas e conflitos, mas neste filme, poucos tiveram tempo e condições de gerar empatia como o protagonista.

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E o filme certamente tem pontos positivos. Uma das idiossincrasias do diretor é fazer seus protagonistas sofrerem por erros cometidos por si mesmos, como uma falha no seu caráter que precisa ser corrigida. Mais uma vez, mesmo atrapalhado e errante, criamos empatia pelo detetive não queremos vê-lo punido e se dar mal por ser um viciado. Queremos ver seu personagem saindo da sua zona de conforto e aprendendo com seus erros para se tornar uma pessoa melhor e mais sábia. Apoiado por mais uma excelente interpretação de Phoenix, o diretor acerta mais uma vez neste quesito. E a trilha sonora é fantástica, seja ela diegética (sons que fazem parte do filme, como o rádio tocando música no carro) como a não diegética também (externa ao filme), sendo que esta última que é digna de nota.
Levando em conta tudo o que foi dito, não temos aqui o melhor Paul Thomas Anderson que conhecemos, mas para quem admira seu estilo de direção e quer dar uma “viajada” com o protagonista, o filme é bastante recomendado. Para os que tem pouco interesse ou maior dificuldade em acompanhar filmes com “histórias dentro de histórias”, pode ser uma experiência frustrante, e estamos falando aqui de 2 horas e meia de frustração. Portanto, pense bem antes de assistir, e se assistir, não fique tentando juntar os fios soltos, apenas relaxe, curta a ótima trilha e embarque nessa “loucura”

Trailer do filme:
https://www.youtube.com/watch?v=PTllm5nvqJA

 

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