O Multiverso é uma realidade no MCU. Aliás, é um compilado de vastas realidades não exploradas. Até agora. Uatu, o Vigia, é uma entidade cósmica que observa todas as realidades da Terra sob o juramento de não interferir nos acontecimentos.
A série animada “What If…?” é a primeira animação a seguir oficialmente o “cânone” estabelecido nos cinemas com a voz dos atores do MCU dublando suas variantes animadas. Com 9 episódios a produção exclusiva do Disney+ mostra uma animação de boa qualidade e passeia pelas possibilidades deixadas em aberto nos mais de 20 filmes do MCU e presta uma homenagem aos fãs das HQs.
Os principais destaques dessa primeira leva de episódios ficam por conta do episódio de estreia “E se… a Capitã Carter fosse a primeira Vingadora” que reimagina o filme de apresentação de Steve Rogers para contar a saga de Peggy Carter tomando o soro do super soldado e se tornando a heroína capaz derrotar a Hydra e acabar com a segunda guerra. As cenas do filme revisitadas nessa versão dão o tom da série: olhar as histórias dos filmes com outras possibilidades. Outro destaque fica para o episódio seguinte “E se T’Challa se tornasse o Senhor das Estrelas” com a última participação de Chadwick Boseman dublando o príncipe de Wakanda que acaba sendo sequestrado por Yondu por engano e ao invés de se tornar um rei em seu país leva seu aprendizado diplomático para os confins do universo.
Em 2 episódios a série viaja por caminhos que o MCU não teve coragem de chegar a ainda o drama e o horror. “E se… O doutor estranho perdesse o coração em vez das mãos” mostra a depressão do mago supremo devido a morte da dra. Christine Palmer sendo essa sua motivação para ir ao Kamar-Taj onde conheceria a anciã. E ao descobrir as possibilidades dos seus poderes ele se sente na obrigação de tentar reverter a morte da amada. Para isso acaba absorvendo todo tipo de magia das trevas no processo e acaba sendo impedido por ele mesmo numa ação da Anciã. A história dá uma profundidade bem maior ao personagem de Benedict Cumberbatch do que foi dado nos cinemas, seja na sua extensão de poderes seja no perigo deles serem usados em benefício próprio. Em “E se…Zumbis!?” A série faz uma homenagem a um arco controverso e popular dos quadrinhos e liga ele diretamente com o MCU de forma bem criativa passeando por diversos filmes até chegar em Wandavision.
Em 2 episódios, apesar de entender a liberdade das possibilidades dos universos alternativos, entendo que a visão dos personagens ficou muito distorcida das suas características. Em “E se…Killmonger tivesse resgatado Tony Stark”, o personagem de Michael B. Jordan impede a jornada de Tony Stark de se tornar o Homem de Ferro. E imediatamente se torna braço direito do milionário, usando isso para fazer sua jornada de vingança para retornar para Wakanda. Nesta visão, o personagem é um vilão disposto a derrubar tudo e todos por mais poder e usa seu conhecimento para criar armaduras para Tony Stark e ganhar sua confiança até matá-lo. Apesar de ser o vilão de Pantera Negra, sua motivação sempre foi a busca de vingança pessoal e a “reparação histórica”. Essa visão rasa não beneficia o personagem na construção do episódio. No Episódio “E se… Thor fosse filho único”, o mesmo acontece com o príncipe de Asgard se tornando um playboy mimado que faz festas pelas galáxias usando seu poder, enquanto Odin, dorme só porque Loki não foi adotado. É difícil imaginar que o único herdeiro de Odin seria tão idiota.
No final de temporada, temos um ponto positivo e um ponto negativo. Em “ E se… Ultron tivesse vencido” somos apresentados a uma ameaça das mais perigosas do MCU. Ultron consegue concluir sua fusão com o corpo de Visão e dizimou o planeta inteiro restando apenas Viúva Negra e Gavião Arqueiro que tentam encontrar meios de derrotar a Inteligência Artificial.
Ultron acaba esbarrando com Thanos que chega na Terra para buscar as joias do infinito. Rapidamente o robô destrói o Titã e reúne as joias na sua armadura se tornando uma ameaça para todo universo. Ou melhor, todos universos. Sua capacidade de entender aquele poder é tão grande que ele consegue atravessar a dimensão para confrontar o Vigia. Ele se torna uma ameaça para todos os universos e Uatu é obrigado a interferir e ele decide reunir uma equipe de heróis para derrotar o vilão. A versão mega poderosa de Ultron com as joias do infinito deveria ter sido de alguma forma explorada ao longo da temporada e não guardada para o fim. O personagem com muito potencial que ficou restrito ao arco final.
Já renovada para uma segunda temporada, “What if…?” acerta na criatividade, mas peca por estar presa ou restrita ao que já foi apresentado nas telas do Marvel Studios. Com inúmeras possibilidades com a chegada dos personagens que estavam licenciados pela Netflix ou que pertenciam a Fox faltou ousar mais nessa direção levando em conta que os acontecimentos da série, assim como o Vigia, não interferem na linearidade do MCU. Então, Kevin Feige pondere a questão. O que aconteceria se…?