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Depois de O Lagosta (2015) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), o nome do diretor grego continua entre os cineastas mais radicais dos últimos tempos, principalmente devido seus temas tratados, dentro de uma narrativa mais pesada. Porém, dois anos depois do seu último filme, Lanthimos vem com sua obra mais humana.
Apesar de discutir humanidade em suas obras – utilizando sua própria linguagem – aqui o diretor humaniza de verdade sua trama, com personagens que não ultrapassam a realidade, já que tudo, apesar de ser ambientado em uma Inglaterra do século XVIII, é tão verossímil quanto seu discurso nas obras anteriores.
Diante uma trama categorizada como de “época”, o cineasta se utiliza de sua característica para se diferenciar de obras clássicas da categoria. Por ser mais humano, o grego explora toda a ambientação, considerada pomposa e rica, como algo sujo, confuso e recheado de interesse. Essas características já fazem da obra de Lanthimos algo curioso e interessante diante o cinema atual. No entanto, o grego vai além com sua construção narrativa em trazer não só personagens interessantes, como também muito bem desenvolvidas.
Tony McNamara e Deborah Dean Davis são dois outros nomes importantes para o primoroso desenvolvimento da trama clássica. Os dois não só construíram personagens com peso, como também consegue desenvolvê-los dentro do intuito humano proposto, colocando todos os personagens no gosto do espectador, já que suas atitudes e ideologias encaixam com muitas das nossas atitudes diante situações semelhantes.
Há dentro disso um jogo psicológico muito bem explorado dentro do triângulo formado brilhantemente por Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone. O cuidado textual de McNamara e Deborah é grandioso, principalmente com o ácido humor e pela presença da personagem de Emma. De início, o desenvolvimento percorre apenas por uma personagem, já que a mesma é o centro do guia da trama, porém, o texto é escrito para um crescimento narrativo das três, adicionando ainda o cenário político da época.
Neste ponto, tudo é bem trabalhado para a trama decorrer de uma forma natural. Todas as participações dos personagem são com um propósito maior, focado diretamente na desenvoltura da história. O que é muito bem trabalhado por Lanthimos. Sua direção mais controlada deixa a trama trazer seu caminhar necessário para tudo acontecer de forma clara e objetiva, porém devagar. A própria separação da história em capítulos faz a narrativa ser mais palpável e rápida, por assim dizer. Ainda que o desenrolar da trama demore, mas da forma certa.
Dentro desse ponto, Lanthimos explora seu elenco ao máximo, com o destaque claro para Olivia, que, diferente de Glenn Close em A Esposa, traz uma atuação mais externa. A britânica brilha como rainha, com uma demonstração bem mais crua da realeza e encaixando perfeitamente na proposta humana da trama. Olivia eleva sua personagem com mudanças de personalidade dentro de um trabalho seguro e honesto, e por mais que seus momentos de glória sejam na base do descontrole, a britânica se sustenta nos momentos mais controlados, com um olhar pesado diante da trama envolvente.
Porém, seu trabalho ganha o peso que tem pela participação de Rachel e Emma na trama. Como dito, há um sustento de Olivia, porém, poucas vezes individual, devido a sua personagem estar constantemente presente das outras duas. Nisso, tanto Rachel quanto Emma elevam a trama ao extremo, até pela mesma girar em torno do jogo psicológico das duas ao invés de apenas uma personagem.
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O resultado é um poderoso trabalho, principalmente de Rachel. Suas variações de personalidade são ainda mais significativas em comparação a Olivia. Essas variações dão o tom de suspense necessário para sua personagem evoluir. Não só isso, como também a trama em si. Emma, por sua vez, encaixa perfeitamente com sua personagem. Os tons carismáticos da atriz, muito presentes em outras obras, fazem jus a ideologia da personagem em questão. No entanto, a mesma evolui, mantendo suas características próprias para momentos exatos, o que eleva ainda mais o trabalho de direção de Lanthimos.
Sua direção, por sua vez, utiliza-se de câmeras estranhamente técnicas. O grego explora diversas vezes sua lente grande angular diante cômodos do castelo, o que encaixa na proposta de entregar um lado mais real àquele universo muitas vezes romantizado, como se o público espiasse constantemente o verdadeiro lado de tudo aquilo.
No entanto, enquanto há momentos em que a técnica funcione, trazendo verdadeiro sentido, como em cenas de revelações de segredos ou pontos estratégicos para mostrar cômodos desconhecidos, há diversos outros em que esse sentido some, deixando o público se questionando sobre o exagerado usado da técnica. O grego se aproveita bastante de câmeras abertas em suas obras, principalmente em O Sacrifício do Cervo Sagrado – que aliás, traz a mesma técnica, porém de forma mais controlada, mas ainda significativa – mas aqui, o uso perde seu significado diversas vezes, dando um cansaço visual.
Apesar disso, os olhos brilham diante a direção de arte, mesmo sem segredos para o estilo de produção. Toda a ambientação é muito bem explorada pelo diretor que, mesmo sujo, faz tudo ser encantador e belo, mas ainda com o seu toque forte, apesar de ser o seu filme mais limpo, por assim dizer.
Mesmo com essa limpeza, a sujeira está diante das atitudes humanas em busca daquilo desejado. Por mais que haja uma nítida crítica a uma política, é possível enxergar as ações diante outras vertentes, nas quais se usa o prazer em busca de poder e domínio.
Essas características fazem de A Favorita mais um grande acerto de Lanthimos diante sua filmografia pesada. Por mais humana que sua nova obra seja, o grego traz uma visão original e curiosa diante um cenário romantizado, com um jogo psicológico bem explorado e bem montado pelo cineasta.
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