Exibido no 40º Festival Internacional de Toronto e concorrendo ao Canadian Screen Awards 2016 (o Oscar canadense), o longa-metragem Zoom (2016), estreia esta semana no Brasil e mesmo que não seja um dos lançamentos mais esperados deste início de ano, certamente é um dos mais criativos. Ainda que passe longe de ser uma produção perfeita é um filme que não tem medo de se arriscar, com um roteiro escrito pelo estreante Matt Hansen, que ousa criando uma narrativa a la Charlie Kaufman. A linguagem visual se utiliza de um artifício que a torna notável, pelo menos em um dos três segmentos narrativos do longa, espécies de contos que se entrelaçam em uma experiência no mínimo interessante. Pena que as outras duas partes não tenham tanta qualidade quanto a referida.
‘Zoom’ é uma produção brasileira-canadense dirigida pelo brasileiro Pedro Moreli. É o seu primeiro trabalho como “diretor solo” em um longa-metragem, antes deste, Moreli já havia dirigido episódios do seriado nacional ‘Contos do Edgar’ de 2013 (série de terror inspirada em Edgar Allan Poe) para o canal FOX Brasil e dividiu a direção com seu pai, Paulo Moreli, no filme ‘Entre Nós’ de 2014. Com cenas ambientadas no Canadá e no Brasil, o “diretor estreante”, mas longe de ser inexperiente, teve a missão de conduzir atores, como a brasileira Mariana Ximenes, o mexicano Gael García Bernal, entre outros brasileiros e estrangeiros, em um longa falado em inglês e português, e tanto narrativo, quanto visualmente “não-convencional”.
O enredo não é construído no formato de “antologia’, como em ‘Contos de Nova York’ (1989), mas sim em três partes quase independentes, que se unem de maneira metalinguística. A primeira personagem a ser apresentada é Emma (Alison Pill), que trabalha em uma empresa que fabrica bonecas eróticas por encomenda e que resolve fazer uma cirurgia estética corporal, além de ser uma quadrinista nas horas vagas. O segundo é sobre o cineasta Edward (Gael Garcia Bernal), que está rodando seu novo trabalho, tentando criar um filme mais “autoral”. A terceira trata da modelo Michelle (Mariana Ximenes), que resolve seguir o sonho de ser uma escritora e que apesar de ser brasileira, pretende escrever em inglês, mas passa por um bloqueio de criatividade.
Até aí, não parece haver nenhum diferencial que se destaque, entretanto é a forma como as histórias se relacionam que atribuem maior qualidade ao longa-metragem. O personagem principal do quadrinho de Emma é o diretor Edward, que por sua vez dirige um filme sobre a vida de Michelle, que está escrevendo a história de Emma, num ciclo onde não chegamos a saber, com certeza, quem é o “Deus” de quem. Se existe um tema entre as três é o sexo. A quadrinista trabalha em uma fábrica de produtos sexuais personalizados, o cineasta tem problemas com seu desempenho sexual; e a modelo descobre uma forma diferente de se expressar sexualmente, que desconhecia ou reprimia.
O trecho de maior qualidade é o que retrata o personagem interpretado por Bernal, mérito principalmente dos efeitos visuais, que simulam uma história em quadrinhos. Com efeitos que utilizam a técnica de animação da rotoscopia, similar aos longas de Richard Linklater, ‘Waking Life’ de 2001 e ‘O Homem Duplo’ de 2007, porém ainda mais parecidos com traços de desenhos, que lembram muito os de uma verdadeira HQ e “pintam” uma fotografia repleta de cores vibrantes. A metalinguagem brinca ainda com questões relativas às produções cinematográficas, como as de cineastas que têm de tornar seus filmes mais “atrativos” para o público, fazendo com que o diretor-personagem tenha que rodar e inserir obrigado em seu longa, algumas cenas de ação e até uma “propaganda” de uma empresa, que financia suas novas filmagens.
A parte que apresenta a vida da personagem de Pill, também tem seus encantos, com sua rotina onde tem que modelar bonecas sexuais e lidar com sua insatisfação sobre uma parte específica de seu corpo. Suas mudanças corporais são um atrativo a mais, contribuindo para uma discussão sobre as noções de “beleza ideal”, numa analogia direta com os corpos “artificiais”, que ela mesma modela. O que acontece em seu “mundo” se reflete nas relações que ela cria para Edward e que acabam voltando-se contra ela, porém este é o fenômeno que deveria ter sido melhor desenvolvido no roteiro, talvez com um acréscimo no tempo da duração que tem apenas 1h36 min.
Ainda que todos os atores sejam competentes e se esforcem, o enredo cai constantemente de ritmo, pois nem sempre ele é eficaz em manter a atenção do espectador. Mesmo que as três partes se intercalem, os momentos com Ximenes são, aparentemente, intencionalmente escritos para serem tediosos. Sua jornada é a mais melancólica e sua própria vida está envolta em tédio, tanto em sua profissão, quanto em seu relacionamento com Dale (Jason Priestley). Porém, elas acabam afetando a experiência de se assistir ao filme como um todo.
O projeto nasceu do relacionamento profissional do produtor Niv Fichman, com o diretor Pedro Moreli, que se conheceram durante a produção de ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ de 2008, dirigido por Fernando Meirelles (tanto Meirelles, quanto o pai de Moreli, são produtores de ‘Zoom’, através da produtora O2 Filmes, empresa criada por ambos). Quando Fichman entregou o projeto para o Moreli “filho” dirigir, a única exigência é de que fosse “original”. Originalidade é provavelmente um fenômeno que não existe, mas é sempre obrigação de qualquer artista que se preze, ser o mais inventivo possível. Pode ser que ‘Zoom’ não seja tecnicamente o filme mais competente do ano, infelizmente nem o melhor escrito, porém, certamente é um dos que melhor soube utilizar os recursos narrativos disponíveis e isso sempre é louvável, fazendo-o merecer muito ser assistido nos cinemas.
É preciso mencionar ainda que a produção se destaca criativamente até na estratégia de “marketing” provavelmente inédita, que lançou um vídeo em VR (realidade virtual) interativo, filmado com uma câmera 360º, que pode ser assistido na página do longa-metragem ou no canal da distribuidora. Aliado com esta estratégia, convidou blogueiros como PC Siqueira e Cid (do Não Salvo) para assistir o vídeo com óculos Rift e comentar suas impressões. Não bastasse tudo isso, os seguidores da página do filme no Facebook, podem criar um GIF animado, que os insere no universo quadrinizado do pôster do longa-metragem. É muito divertido testar esse recurso.
Link para fazer o seu GIF animado do filme:
https://www.zoomyourself.com.br/
Assista aos vídeos mencionados logo abaixo.
Vídeo VR (realidade virtual) interativo, filmado com uma câmera 360º.
Mexa com o mouse no vídeo, para assistir todos os ângulos:
PC Siqueira assistindo o vídeo com os óculos Rift:
Realidade Virtual! Zoom – O Filme
Eu gosto muito dessas novas tecnologias e experimentações artísticas. Zoom – O Filme (que estreia dia 31) fez um ótimo trabalho na página deles, que vocês podem testar também. Esse é o meu REACT ao trailer, hahaha se liga Zoom O Filme
Publicado por PC Siqueira em Segunda, 28 de março de 2016
Cid (do Não Salvo) assistindo o vídeo com os óculos Rift:
Assisti o trailer em realidade virtual do Zoom O Filme com um óculos VR e é muito louco, o futuro já começou msm huahauha Quem quiser assistir o vídeo, não precisa ter o óculos, da pra ver mexendo o celular pra todos os lados ou arrastando com o mouse mesmo > https://www.facebook.com/zoomofilme/videos/1003731976370056
Publicado por Não Salvo em Segunda, 28 de março de 2016
Zoom: O filme – Recado de Fernando Meirelles
Quem melhor pra explicar #ZoomOFilme do que os próprios atores e equipe?! Olha só:
Quem melhor pra explicar #ZoomOFilme do que os próprios atores e equipe?! Olha só:
Publicado por Zoom O Filme em Sábado, 26 de março de 2016