Zumbis e as metáforas da vida moderna em “A Noite Devorou o Mundo”

Desde que o já falecido e genial George Romero criou o gênero de zumbis, estabelecendo regras e situações, os mortos- vivos se tornaram grandes referências na cultura pop. Seja em filmes, séries, livros ou games, os zumbis se firmaram como criaturas assustadoras e como uma boa forma de explorar, através da fantasia, problemas da vida real. Se nos filmes de Romero, as críticas sociais fizeram suas obras se tornarem cults com o passar dos anos, o diretor Dominique Rocher, em seu filme de estreia aposta no drama para apresentar sua visão da obra do escritor Martin Page que escreveu sob o pseudônimo Pit Agarmen.

O longa conta a história de Sam (Anders Danielsen Lie) que rompe seu orgulho e vai até a casa da “ex” buscar algumas caixas com objetos pessoais perdidas com o fim do relacionamento e acaba topando não só com o novo namorado dela como também com uma festa que acontecia por lá. Desprezado por ela, acaba bebendo um pouco e pega no sono num quarto sozinho enquanto recolhia suas coisas e tentava conter um sangramento no nariz.

Ao despertar ele percebe que o mundo não é mais o mesmo. Fazendo jus ao título, “A noite devorou o mundo”, ele encontra um apartamento revirado com marcas de sangue e um silêncio perturbador.

Hordas de zumbis pela rua dão a certeza que o mais importante no momento era sobreviver. Para isso é preciso descolar uma arma e estocar alimentos e de vez em quando criar música, seja na bateria abandonada ou com qualquer utensílio para se distrair e extravasar naquela Paris, agora completamente silenciosa.

As críticas sociais comuns de apocalipse zumbi são deixadas de lado para nesse longa mostrar o lado doloroso de um fim de um relacionamento. Sam tenta lidar com naturalidade com a solidão, mas aos poucos vai perdendo a sanidade enquanto a criatividade e os meios básicos de sobrevivência vão se esgotando no prédio.

O longa aposta no silencio, na música e nos ruídos para criar um clima de solidão bem interessante. Para quem gosta do gore sempre atrelado ao gênero, o diretor deixou de lado cenas exageradas para desenvolver a humanidade do personagem diante do fim do mundo. E um apocalipse sem explicações, assim como o término de alguns relacionamentos, o importante é mostrar como o personagem lida com essa “Síndrome do Pânico” onde estar sozinho e se manter são, alegre e vivo é mais importante do que lamentar os que já morreram e ficaram pelo caminho ou até mesmo buscar companhia por aí. E quando o inesperado bater à porta nem sempre pode ser um zumbi preso e sim uma oportunidade de recomeço.

Mesmo com a dificuldade de enfrentar esse mundo caótico que vivemos, seja com zumbis ou não, sempre há alguém no telhado ao lado passando o mesmo que você.

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